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Bom ano para o vinho, bom ano para empregos

Luis Fernando Assunção

Este ano de 2021 vai ser um bom ano para o vinho português. Mais ainda para a região da Beira Interior, que teve uma ajuda extra do clima: chuvas um pouco mais do que o habitual na Primavera, tornando o ciclo da uva mais favorável. Além dos bons números financeiros, bons números também na oferta de trabalho temporário e fixo para o sector. Trabalhadores que todos os anos costumam vindimar nas quintas da região tiveram a oportunidade de voltar para este ano. “É um trabalho que gosto muito de fazer e espero continuar”, explica Ana Maria Fernandes, 48 anos, que há mais de 20 participa da colheita da uva.

Desde jovem que Ana Maria realiza colheitas com o pai na quinta em que a família morava. Foi assim que ela ganhou o gosto pelo trabalho e não o voltou a deixar. Além da colheita, ela também faz a poda, que é um trabalho mais técnico. Por trabalhar o ano inteiro, acabou contratada pela Quinta dos Termos, no concelho de Belmonte, tal como o marido, António. “Trabalhamos em família e assim é melhor”, admite Ana Maria, que mora com a família no Fundão.

António e Ana até se conheceram numa vindima, acabaram por casar e depois começaram a trabalhar juntos na agricultura. O casal pretende continuar nesse trabalho, não apenas pela possibilidade de emprego e ganhos, mas também porque gosta do que faz. “Crescemos a fazer isto e queremos continuar até onde der”, reconhece António que, mesmo trabalhando com a uva o dia inteiro, não bebe vinho. “Mas gosto de uva”, brinca.

 

Uma enóloga que veio de Espanha 

Mesmo com uma pequena quinta para cuidar da sua vindima, olivais e macieiras, Paulo Oliveira, 56 anos, decidiu ser empregado responsável pelas máquinas que dão apoio na plantação e colheita das uvas. Com mais de 20 anos de agricultura, é responsável pela pulverização, fertilização e todo o trabalho com máquinas no local. Morador no Carvalhal Formoso, ali bem perto do trabalho, Paulo seguiu a tendência da família em trabalhar com agricultura e máquinas. “O meu pai já fazia esse serviço”, conta.

Não é apenas para colhedores e trabalhadores de máquinas que a vindima oferece emprego. Também profissionais, como enólogos, responsáveis pela orientação da produção e conservação do vinho, beneficiam com a boa colheita todos os anos. É o caso da espanhola Ângela Marin, 34 anos, que depois de se formar na Estremadura, decidiu estagiar em Portugal. Gostou tanto que ficou, casou e hoje é a enóloga da Quinta dos Termos. “Estou no sítio certo. Tenho a sorte de trabalhar na minha área e fazer o que gosto”, admite ela, que casou com um português e reside na Guarda.

 

Trabalhar no que se gosta

O mesmo caminho pretende seguir o estagiário Afonso Gomes, 22 anos. Já formado em enologia, agora faz estágio profissional. Formado na região norte do Pais, decidiu mudar-se para Covilhã para aprender o dia-a-dia de uma vinícola. “Farei o estágio até o meio do ano. Se der, continuo na empresa. Se não der, volto para o Norte e faço mestrado”, explica.

Cada funcionário envolvido na vindima faz uma parte do processo, garantindo a qualidade do produto final: o vinho. Ivo Cerdeira trabalha há mais de 10 anos e é responsável pelo curtimento do produto. Passa o dia inteiro tirando o líquido que fica nas cubas. “Faço o trabalho de mexer o vinho, durante a fermentação”, explica. Em cada uma das cubas, ele leva uma hora para cada uma das quatro vezes que mexe o vinho ao dia. Um trabalho nada fácil mas, para Ivo, agradável, por fazer aquilo que gosta.

 

Quinta dos Termos quer crescer 30 por cento

A Quinta dos Termos reinventou-se na pandemia, diminuiu o prejuízo e agora pretende registar um crescimento de 30 por cento em relação a 2020. Isso porque o ano foi excelente para os produtores de vinho da região da Beira Interior. “Este ano foi um ano excelente. Relativamente fresco, com chuvas na Primavera. E o sol teve capacidade de dar a água necessária para as videiras”, explica Pedro Carvalho, director comercial e de marketing da Quinta dos Termos. E filho do proprietário, João Carvalho. A parte má foi a temperatura abaixo do normal e as chuvas na época da colheita. Mas nada que tire a possibilidade de crescimento da produção da empresa.

A Quinta dos Termos, assim como outras empresas do sector, sofreu muito com a pandemia. Com uma produção de aproximadamente 600 toneladas de uva, 600 mil garrafas e 500 mil litros de vinho, a empresa teve as suas vendas estancadas com o fecho da restauração durante a pandemia. Entre Março e Abril do 2020, a queda nas vendas foi de 70 por cento. Foi nesse momento, que o plano da Quinta mudou. O foco foi voltado para as localidades pequenas, que mantinham vendas de bebidas, apesar do fecho da restauração. “Abrimos uma nova possibilidade de mercado. No final do ano recuperámos as vendas e a queda permaneceu nos 10 por cento”, recorda Pedro. A empresa também passou a atender as garrafeiras, que apostaram na venda online durante a pandemia.

Um dos segredos do sucesso da Quinta dos Termos é vindimar a casta certa no dia certo. Com mais de 20 anos de experiência na vindima, a empresa conhece bem todas as 18 variedades de uvas para o tinto e seis para o branco. No total, são 31 castas diferentes, que ganham tratamento único na hora da manutenção e da colheita. Uma ou duas semanas antes da colheita, é feita a retirada aleatória de uvas para amostras e análises. Assim é possível ver a evolução da casta e saber o nível ideal de maturação.

“Não temos uma produção industrial, mas uma produção planeada. Fizemos cada vinho de acordo com cada uma das castas. Não adicionamos nada no nosso vinho. A gente vindima no momento certo”, garante Pedro Carvalho.

A empresa conta com três quintas no País, uma delas, a principal, localizada perto do Carvalhal Formoso, concelho de Belmonte.

 

Enoturismo em crescimento

Outra área em que a Quinta actua é nas visitas guiadas e no turismo, com hotéis da região. O local recebe mais de quatro mil pessoas por ano. São turistas portugueses e estrangeiros com alemães, holandeses, ingleses e brasileiros. Os hotéis da região também organizam visitas ao local, onde os visitantes entendem todo o processo de fabricação e podem provar o vinho feito na empresa.

A Quinta dos Termos foi comprada pelos avós de Pedro, em 1945. Mas foi só em 1997, através do pai de Pedro, João, que a Quinta se voltou para as vinhas. Aos poucos a produção foi aumentando e a empresa passou a absorver a produção de uva para fazer o seu próprio vinho. A partir do ano de 2006, a Quinta dos Termos passou a absorver toda a sua produção de uva. Hoje, a quinta emprega 35 funcionários fixos e mais 30 empregados sazonais, que todos os anos participam na vindima.

António e Ana até se conheceram numa vindima, acabaram por casar e depois começaram a trabalhar juntos na agricultura
Paulo tem 20 anos de agricultura e é responsável por todo o trabalho com máquinas na quinta
Ângela Marin formou-se na Estremadura, decidiu estagiar em Portugal e hoje é enóloga da Quinta dos Termos
Afonso Gomes faz estágio profissional. Decidiu mudar-se para Covilhã e aprender no dia-a-dia de uma vinícola
Pedro Carvalho diz que um dos segredos do sucesso da Quinta é vindimar a casta certa no dia certo

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