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A aldeia que o minério “matou” já não tem gente para lutar contra nova exploração

“Vá ali ao café, mas olhe que às vezes também lá não há ninguém”. O aviso está dado por uma popular na Gaia, aldeia do concelho de Belmonte. E o aviso torna-se realidade. É tarde de sexta-feira e nas ruas, não se vê viva alma. Ninguém mesmo. A aldeia, dizem-nos, está morta. Viva, esteve antes de, entre 1914 e 1950, os americanos explorarem o vale, à procura de minério (estanho). Depois, na década de 70, vieram os brasileiros e portugueses, mas nessa altura, o povo fez forte oposição. Hoje, perante nova ameaça, com a propecção de lítio, já não há ninguém para contestar. Ou quase ninguém. À porta da secção de votos das últimas legislativas, os números não mentem: 101 eleitores.

“Espero que a Câmara defenda os interesses do concelho. A exploração de minério deu zero à Gaia. Hoje está tudo a cair, ao abandono” diz José Mariano, vereador do PSD na autarquia belmontense, onde na última reunião pública do executivo deixou este apelo.

Na Gaia, entre ruas com muitas casas degradadas e a cair, não se vê ninguém. Há alguns idosos, mas muito poucos jovens. A terra já sabe o que foi a exploração de minério, em anos passados, e agora está identificada com uma das zonas de prospecção de lítio.

A primeira vez que enfrentou esta realidade da exploração mineira foi em 1914, com uma empresa norte-americana, a PATC (The Portuguese American Tin Company), a instalar uma draga (o termo é bem conhecido dos locais) para explorar o subsolo, à procura de estanho. Por ali se manteve até 1950, fazendo prospecção em todo o vale e deixando grandes alterações no ordenamento da paisagem bem como na estrutura dos solos aráveis. Os locais, dizem relatos de então, ficaram desolados quando equacionados os custos e benefícios da presença da companhia na comunidade. Falava-se de uma “sangria ao vale” durante 40 anos, levando-se as riquezas sabe-se lá para onde, retiradas de solos que eram arrendados aos proprietários por quantias irrisórias e com a empresa a pagar salários miseráveis a quem trabalhava dia e noite. Na aldeia, que chegou a ter mais de 200 pessoas, após a saída dos americanos, os mais velhos ficaram a trabalhar a terra árida, e os mais novos tiveram que emigrar.

(Reportagem completa na edição papel)

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