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A campainha já não toca para a entrada

Maria da Luz Coelho

Todos os anos, depois das férias da Páscoa, milhares de nós saíamos de casa rumo ao terceiro período. Aquele que decidia o que, muitas vezes, já vinha decidido. Mas dava-nos alento saber que tínhamos mais um recomeço. Com uma mão cheia de sonhos, partíamos para as aulas conscientes da nossa função. Para uns, a de aprender, para outros, a nobre missão de ensinar. É no encontro dos dois que a Escola se concretiza.

Mas este ano nada se repete. Não me lembro de não haver escola no terceiro período. Assim, escola física, cheia de vozes, cheia de nós, como nos habituámos a tê-la. E é isso que nos faz falta e nos lança na angústia da perda. Faz-nos falta o toque da campainha, as salas de aula, os livros nas mesas…. Faz-nos falta a rotina dos dias. Fazemo-nos falta!

Sem nos deixarmos cair, vamos seguindo em frente na tentativa de obviar males maiores. Ultrapassamos obstáculos sem desanimar, aparelhamo-nos de todos os equipamentos, reforçamos a crença no alcance da meta. E criamos um novo terceiro período. Mas também ele é à distância, como só já sabemos viver. À distância uns dos outros, à distância dos que amamos.

Estar no ensino é ato de amor. É ajudar a crescer com o contributo da nossa rega, é dar as mãos e ajudar a subir a escada da vida, do conhecimento, do Ser. Só que agora, faz-se à distância, explicando por trás dos vidros como se dá um passo em frente. A diferença, é que não se pode segurar na mão para ajudar a caminhar, para dar confiança, como quem diz “Dá-me a mão e eu levo-te”. O afeto do toque que às vezes ensina mais do que as palavras foi levado pelo vírus que nos condenou à distância.

Criou-se uma nova realidade e com ela uma forma adaptada de estar na Escola. O lugar ficou vazio, desumanizado, sem gente que fala, sem o barulho do pulsar da vida.

Que pelo menos não nos falte a mestria das palavras para levarmos o terceiro período sem nunca ouvirmos o toque da campainha.

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