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A casa dos que não nasceram cá

“Em Portugal sinto uma certa paz que não tenho noutro sítio.” Não nasceu cá, mas assim o sente. São as palavras de Carolina Ramos, de 20 anos, que nasceu na França, filha de portugueses emigrantes. “É o país onde me sinto melhor. Continuarei sempre a vir para Portugal, porque a família é um valor muito importante para mim e tenho aqui as minhas raízes”, conta a jovem.

Carolina aprendeu a falar português através dos pais, que sempre lhe falaram a língua materna em casa. “Mesmo quando não venho a Portugal, falo com a minha família ao telefone. É importante para mim saber falar português, para nunca perder contacto com o país”, garante.

Filha de emigrantes, que traz consigo de férias o seu namorado francês, afirma que planeia, um dia, voltar para o país da sua família. “Eu estudei e construí o início da minha vida profissional e pessoal em França, mas sempre quis viver o resto da minha vida em Portugal, perto da minha família e claro, construir aqui a minha própria família também”, revela.

A jovem considera-se sempre bem-vinda em terras lusitanas. “Eu acho que os portugueses são pessoas que gostam de acolher e mostrar o país bonito que têm. Estão sempre dispostos a ajudar os outros e sinto-me sempre em casa quando cá venho”, termina.

O sentimento de pertença ao país lusitano é partilhado por Lara Pires, de 12 anos, nascida no Luxemburgo. “Eu gosto muito de Portugal, os meus avós estão aqui e eu gosto de os vir visitar, é muito importante para mim vir aqui e encontrá-los”, começa.

A menina admite que também gosta muito do verão português, mas pensa que a sua vida no Luxemburgo não difere muito da vida quando está em Portugal. “A minha vida no Luxemburgo não é muito diferente de Portugal. Quando estou lá, a maioria também fala português, só que alguns só falam luxemburguês, então noto mais a diferença da língua”, conta.

Lara afirma que se sente “muito bem recebida” em Portugal e que não mudaria nada na sua receção. “Eu sinto-me muito bem recebida, sinto-me melhor em Portugal do que no Luxemburgo porque é aqui que tenho a minha família toda, é a minha casa”, termina.

“Ele não usa a camisola do Ronaldo, mas fala português!”. Foi desta forma que o pai de Alexandre Branco, de 14 anos, o apresentou com orgulho: “Sempre fiz questão que ele falasse português. É o nosso país”, revela Paulo Branco.

Apesar de ter nascido em França, o jovem considera que isso não alterou em nada a sua relação familiar com os parentes que estão em Portugal. “Continuo a ser muito próximo dos meus avós, primos, todos eles, independentemente da distância”, diz. A barreira linguística também se revelou sempre inexistente: “Os meus pais falaram-me sempre português em casa e com os avós também falo português e agora compreendo e falo um bocadinho”, conta.

“Acho que em Portugal pensa-se mais no dia-a-dia e em França pensa-se mais no futuro”, é a principal diferença que rapaz encontra quando compara os dois países. Apesar de não conseguir explicar bem o porquê de sentir isso, Alexandre pensa que está relacionado com o facto de estar sempre de férias cada vez que vem a Portugal, dando-lhe mais liberdade para aproveitar o dia-a-dia e não ter que pensar tanto em preocupações futuras.

Diogo Coutinho é um rapaz de 15 anos que já nasceu na França, mas que mantém ligação com o país da sua família. Diogo diz que a distância não afeta em nada a relação com a sua família, porque, segundo ele, estão sempre a ligar uns aos outros. A sua mãe, Sónia Monteiro, complementa, explicando que as redes sociais simplificaram imenso a comunicação entre famílias à distância. “Agora com as redes sociais, é muito mais fácil de comunicar e de os ver. Claro que a presença humana faz falta, mas eu lembro-me perfeitamente quando fui para França, há 22 anos, não havia nada destas coisas e tínhamos que ir às cabines telefónicas ligar para as pessoas”, relembra Sónia.

O jovem diz ter aprendido português em casa, através dos pais. Mas, revela também, que aos sete anos de idade, entrou numa aula de português que estava a decorrer na sua escola, mas que nunca mais voltou a fazê-lo. “Eu entrei uma vez nessa aula, nunca mais fui e nunca mais quis ir às aulas de português, porque eu não gostava. Eu já sabia o básico e eles queriam que eu aprendesse o que eu já sabia, então não me interessou”, confessa.

“No geral, não me sinto bem-vindo. Há muitos estereótipos e ‘clichés’ sobre os franceses”, começa por explicar Diogo. “Em Portugal sou francês e na França sou português, então não tenho casa em lado nenhum”, ironiza o jovem. Apesar disso, o rapaz afirma que, em França “são mais tolerantes do que em Portugal”.

“As piadinhas de ser ‘avec’, sobre a maneira de vestir, o corte de cabelo, porque a moda em França também é diferente do que em Portugal” são as principais razões que fazem com que Diogo não se sinta bem-vindo quando vem ao país que viu nascer os seus pais e restante família. A mãe, Sónia, diz que esse tipo de atitudes nota mais na Covilhã, pois acredita que em cidades maiores, essas diferenças talvez passassem despercebidas.

Diogo confessa que se sente “cada vez menos bem” quando está em Portugal. Mas explica que, devido à idade, está a crescer e o facto de não ter grandes amizades no país também não ajuda, porque, segundo o jovem, tem a sua vida toda em França.

“A família é a única coisa que me prende aqui. Eu vou continuar a vir a Portugal para os ver a todos, mas acho que irei vir cada vez menos”, remata.

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