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A diabolização dos hobbies

Leandro Ferreira

 

Alegadamente, agora é impossível divertirmo-nos verdadeiramente.  Voltemos a ser crianças, por favor

 

De acordo com Dicionário Priberam – Actividade favorita que serve

de derivativo às ocupações habituais. = PASSATEMPO  

 

Bom, se é um passatempo, qual será a razão de agora ser tão difícil “passar o tempo”, de maneira verdadeiramente descontraída. Esta sensação, de estar a violar o meu tempo com coisas que não oferecem rentabilidade, parece estar cada vez mais presente. Mas por quê? Eu até acho, ou pelo menos à tão pouco tempo achava, que isto não era um problema para mim. Pelos vistos estava enganado. Não sei se isto será um sentimento mútuo entre as gerações mais novas — com novas digo entre os 23 e 30 anos — ou até de outras faixas etárias. Tenho alguma dificuldade em compreender tudo isto, assumo que não seja o único com este problema. Com isto, no passado fim de semana lia um livro tranquilo, até que de repente comecei a sentir-me mal. Que se passou dizeis vós? Bom, na minha ótica comecei a ponderar senão estaria a perder tempo. Ora bolas, querem ver que agora já não posso ler um livro descansado sem ficar nervoso. A experiência mais parecida com o que sentia seria quando devoramos uma tablete de chocolate inteira. Aquele sentimento de fraqueza e vergonha. Não pode ser. Poderia ser só um acaso do dia em, poderia estar ansioso com algo que não poderia explicar. Ainda assim, este acontecimento foi todo ele uma incógnita. Após aquele momento de reflexão continuei a ler o meu livro sem pensar mais no assunto. No entanto, passado uns dias, volto agora a debruçar-me sobre este assunto. Não consigo perceber qual terá sido razão para tal sucedido. É sabido, que nos dias que correm nestes denominados “fast paced environments”, que são as nossas vidas, estar totalmente tranquilo e calmo é uma virtude. Esta sede constante em busca da produtividade e eficiência está fazer com que estejamos em alerta máximo. Rotinas e trabalhos cada vez mais exigentes e sempre no limite. As redes sociais envenenam, por via de conteúdos direcionados a como ficar milionário em dois anos, ou como ter glúteo no ginásio. Atividades que não sejam fazer exercício físico ou trabalhar num projeto empreendedor são vistos como uma perda de tempo. Procrastinação, é esta, a palavra da “moda” para descrever quem não tem passatempos interessantes ou não faz nada de “interessante”. Nos dias que correm não fazer nada é uma coisa diabólica. Macabra! Será esta a explicação para Portugal, até há bem pouco tempo, ser o 3º país com o maior consumo de Benzodiazepina? Ou seja, as pessoas não dormem porque não conseguem, mas sim por não estarem a ser produtivas enquanto o fazem. Será? Não sei! Dessas coisas percebo eu pouco. Abraço!

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