Uma marca da infância, da juventude. Quem não se lembra dos “bons chefes de família”. Algo de sagrado, que remetia até para a raiz popular de um clube de futebol. A cultura do povo, das famílias portuguesas. Mas lá está, “o bom chefe de família”, tinha em muitos casos, em muitos mesmo, o lado mau. O verdadeiro. Naquele tempo era o homem que impunha as suas regras, e quem não as respeitasse, entenda-se mulher e filhos, estava “feito ao bife”. Ou seja, em apuros, numa situação muito complicada. Lá está, a precisar de um bom tratamento. Como os bifes para ficarem tenrinhos. Naquele tempo, o “tratamento chamava-se “chegar a roupa ao pelo”, que é como quem diz, usar da força física para mostrar quem é que mandava. Naquele tempo, a violência doméstica era algo perfeitamente natural. Ou seja, o homem chegava a casa, derrotado, “alimentado” por uns canecos a mais, e tratava de arriar na mulher. Naquele tempo era assim. Neste tempo, no de hoje, acontece o mesmo. Pior, são os netos daqueles homens, muitas vezes bisnetos desses tais, putos que se acham no direito de usar da violência sobre a namorada ou a jovem mulher com quem acabaram de casar. E não venham com a criação do cenário de que são imigrantes, ou portugueses de segunda geração. Nada disso. Tratam-se de portugueses do melhor, de fina qualidade, com “pedigree”, criaturas de linhagem certificada, ambicionando tornarem-se em “bons chefes de família”.
A Violência Contra as Mulheres em Portugal, coloca o país no sub-mundo das sociedades por desenvolver. É uma vergonha, e qualquer um de nós deve por todos os meios denunciar este tipo de crimes. Em 2025, a mulher portuguesa continua a ser tratada como um ser menor, em muitos casos abaixo de ser, como um animal, porque lá está, continuamos a olhar para os animais como bichos a escorraçar. Mais, como objectos de divertimento, como alvos a abater. O que se passa em Portugal é deplorável, e remete-nos para um retrocesso civilizacional, alimentado por uma cultura de ódio patente em mensagens de grupos extremistas, de seitas, que desafiam jovens a violar mulheres, e que em muitos casos, acabam em morte. Naquele tempo, as mulheres “levavam uns tabefes”- era assim a linguagem masculina – e calavam-se. Foi assim. Tem sido assim. Hoje as mulheres morrem às mãos de criminosos que com elas se deitam na cama. Há agressões sexuais diárias, mulheres que continuam a remeter-se ao silêncio. Há violações grupais, difundidas em vídeos sociais. Por jovens adultos, muitos até adolescentes. Há vidas destruídas, famílias destroçadas, palcos onde o homem, ser macho, continua a ditar as leis, a exercer poder e a abusar, a agredir, a violentar. Os sinais são por demais evidentes. Nota-se uma clara involução na construção social, um processo de regressão, um movimento de ordem primitiva que degenera numa cultura voltada para a supremacia masculina, com o triunfo dos tiranos. Dos “bons chefes de família”.