A GRANDE BANHADA

“Tive uma visão. Confesso. A de 50 deputados amarrados no fundo do mar. Não era só um bom princípio, como a possibilidade de um país melhor”

Quando Milei subiu ao palco empunhando a famosa “motoserra” e a entregou a Musk, tive uma visão. Confesso. Que aquela geringonça ganhava vida, e descontrolada se virava ao desassombrado “tecnovisionário”. Um banho de sangue. Arrepiante. Naturalmente. Ali mesmo, perante o olhar atónito de um mundo chocado, sem conseguir explicação para o que acabara de suceder ao homem. A mesma não explicação para o sangue que há três anos banha as ricas terras da Ucrânia, por milhares de inocentes mortes, apenas e só pela defesa de uma pátria em que tantos acreditam. Pelo direito à liberdade, à independência. Naturais anseios. Quando Trump, esse mesmo, o ditador, numa daquelas manhãs de jorro intelectual, decidiu de uma assentada fazer negócios nos territórios invadidos, construir uma gigante estância de férias para milionários nos territórios ocupados e destruídos, alargar o seu êxtase expansionista ao norte da América e da Europa, tomando conta de algo que não lhe pertence, tive outra visão. Confesso. A de que aquela bala que em Butler na Pensilvânia atingiu de raspão a orelha do candidato, tivesse tido melhor sorte. Lá está. Outro banho de sangue. Ali mesmo, no palco de um comício, perante o olhar perturbado de milhares de adeptos, e de um mundo de confusos seguidores, que não encontraram explicação para o que acabaram de presenciar. O mesmo mundo que não encontra razão humana para milhares de crianças assassinadas na Palestina. Confesso, estou cansado destes “vencedores”. Dos intocáveis.

Não se contam pelos dedos, são às centenas, aos milhares, as pessoas comuns, personagens, personalidades, e até eruditos, que se colocam “side by side “com os novos donos disto tudo. Quando um grupo de ignorantes e boçais, rebanho de um pastor, que diariamente se acomodam no anfiteatro parlamentar, conseguiram o feito de insultar e ofender uma deputada apenas pela sua inferioridade física, tive uma visão. Confesso. A de 50 deputados amarrados no fundo do mar. Não era só um bom princípio, como a possibilidade de um país melhor. E o banho não era de sangue, vá lá. Confesso, estou cansado destes intocáveis. A quantidade de portugueses, europeus, muitos tiveram até uma boa educação, estudaram, têm ou tiveram responsabilidades em cargos de gestão, de administração, juraram defender a liberdade, a democracia e os direitos humanos que ambicionamos respeitar na Europa, e do mesmo modo são capazes de venerar estas figuras, como o novo presidente dos Estados Unidos, o seu rico bobo da corte, ou ainda o “português de bem”. Estamos conversados. Não se iludam. Esta gente não    é boa, não deve ser idolatrada, e não nos serve. É a grande banhada.

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