Gosto do sentido de humor e da inteligência de Santos Silva. E da sua excelente análise crítica. Confesso que lhe dedico um enorme respeito intelectual, enquanto académico é inegável o seu mérito, inquestionável o seu contributo para uma educação superior dos portugueses. Bem patente aliás na forma como conduziu os trabalhos parlamentares da última legislatura, e como liderou os duzentos e trinta deputados. Acontece que me suscita muitas dúvidas quando num quadro de regime democrático que tanto defende, alguém se torne um profissional do dirigismo político. Cria espaço e abre portas para a desconfiança sobre a “ditadura do estar”, ou seja, não promove a renovação de quadros, o rejuvenescimento dos plantéis partidários, e a promoção de outras personalidades. O último presidente da Assembleia da República foi ministro de seis pastas em cinco governos diferentes. Da Educação, da Cultura, dos Assuntos Parlamentares, da Defesa, dos Negócios Estrangeiros, e de Estado.
Durante este século esteve em todos os governos socialistas. Não parece muito democrático. E na verdade, por muito que tenha feito por Portugal ao serviço de todos estes ministérios, será sempre lembrado por alguém que “comprou” um confronto quase permanente com um grupo de deputados ruidosos, mal educados e incapazes de interpretar o seu devido papel, que a partir de certa altura começou a frequentar o hemiciclo parlamentar. E por esta via sinto um enorme apreço pela forma como Santos Silva atribuiu a si próprio o papel de tentar, e de muitas vezes conseguir, pôr na linha uma verdadeira cambada. Não uma boa cambada, como aquela heróica e lusitana gente que Herman José evocava no seu hino de apoio aos infantes desportistas. Nada disso. Uma trauliteira cambada, que julgando conjugar o verbo cambar, imagina-se no lado certo do caminho. Au contraire, em francês para que uma parte dos seus seguidores que anda lá fora a lutar pela vida entenda, que esta engrossada seita não serve os interesses do país onde nasceram.
O grupo aumentou tanto que seria aconselhável alterar as condições acústicas do plenário, quem sabe até colocar como no futebol, uma equipa de stewards envergando coletes amarelos-fluorescentes e munidos de tasers, de forma a criar uma “caixa de segurança”. Acredito no previsível aumento de cenas lamentáveis no quotidiano parlamentar, e por via da óbvia correspondência mediática, a sua visualização em todo o mundo, mesmo até no “quinto dos infernos”, onde em parte Santos Silva foi destronado, e onde a desprovida e eufórica malta gritou com arrogância; “agora é que vão todos saber do que a casa gasta”. Lá está! Talvez fosse bom alguém que os ponha nos seus devidos lugares.