A INDIGNAÇÃO

Como não indignarmo-nos com urgências de hospitais atoladas de doentes esperando dezenas de horas para serem atendidos

É vital. Como beber água. Refresca-nos o sentir. Não é um Direito em forma de letra na Constituição, mas é de uma vitalidade intensa. Trata-se de uma reacção fundamental contra a injustiça, a violência, os atropelos constantes à indignidade, e deve exigir em nós como um estado de permanente sobressalto, como um acumular de energia comprimida pronta a uma libertação em forma de explosão. E algo que se afigura tão natural, ganhou neste regime de fraca vitalidade democrática, uma conotação ideológica porque o conceito de Direito à Indignação foi usado no vigor de expressão por Mário Soares. Logo, os indignados “costumam” ser de esquerda. Os tipos que nunca estão contentes  com nada, que seriam muito mais felizes se “entrassem no jogo”. O jogo. Recuso-me a entrar no jogo de Francisco Calheiros, que se apresentou a jogo contra a greve geral, porque segundo diz, o país precisa de produtividade. Logo ele, líder da Confederação do Turismo, que é talvez o sector profissional que mais gosta da precariedade. Muitos, mas mesmo muitos desses trabalhadores  são precários, não têm vínculo, não passam recibos verdes, nem de qualquer outra cor, recebem quando recebem, em “el contado”, e são os primeiros a quem se abre a porta da rua. Sim, tem razão Calheiros, esses não fazem greve, vão a jogo. E no jogo do turismo é o país que está em jogo. O tal país que joga o jogo da “verdade ou consequência” com os países de língua oficial portuguesa. A verdade é que cada vez é maior a evidência de que a CPLP é uma comunidade  sem peso, de fachada, com cada vez menos laços entre os estados membros, como voltou a ver-se com a Guiné-Bissau, e a consequência é que já nem a mesma língua é fundamento válido, como há muito se viu com a admissão da ditadura da Guiné Equatorial. Bom, a alguém há-de interessar este serviço.

O mesmo não se pode dizer do Serviço Nacional de Saúde, cada vez mais afastado dos pressupostos da sua criação. Como não indignarmo-nos com urgências de hospitais atoladas de doentes esperando dezenas de horas para serem atendidos. Não é admissível. Estamos a tratar mal as pessoas. A discriminar e a aprofundar desigualdades.

O país de uns e de outros. Como Marco Galinha dono da VASP , única empresa que distribui jornais e revistas no país e que ameaçou deixar de o fazer a oito distritos do Interior. Algo impensável para milhares de portugueses necessitados de informação e de conhecimento, e que desse modo mais ficariam votados ao ostracismo. De novo direitos fundamentais postos em causa, e lá está, voltamos aos interesses económicos, às pressões políticas, e à não existência de princípios e de valores básicos para uma sã convivência e a que infelizmente parte da sociedade se acomoda, não exercendo o seu Direito à Indignação. Foi isso que me trouxe aqui hoje.

 

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