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A mosca

"Casos de suspeição são sinónimo da falta de exigência do povo"

A discussão era sobre a qualidade dos políticos. Dos políticos portugueses. Que são fracos. É o que dizem por aqui. Lembrei-me daqueles humanos, quase sempre portugueses, que se põem a pensar: “ah quem me dera ser mosca, para ouvir certa conversa… “Entrei por instinto. Sem pensar. Até na escolha da mesa. Onde estavam três homens, maduros, um deles, penso que o mais novo, pelo menos o mais “nervosinho”, esbracejou violentamente para me atingir, e eu desequilibrada, recorri a uma travessa de bacalhau – pelos vistos à lagareiro, meus caros não é com azeite que se apanham moscas… que passava nas mãos de uma mulher que servia. Deixei-a ir e voltei ao que me trouxe aqui.
Um de óculos, havia dois, um com mais ar de patrão, insistia na ideia de que a situação a que chegou a política, com tantos casos de suspeição, é sinónimo da falta de exigência de um povo acomodado que os elege, ao que o da esquerda, na posição da mesa, bem entendido, defendia com unhas e dentes, que existe um preconceito contra os políticos portugueses, e que estes não são piores do que os do resto da Europa, até do Mundo. Dando exemplos como a Inglaterra, a Itália, o Brasil, ou até a Espanha. “porque não os Estados Unidos?! “Pensei – as moscas também pensam- quando pousei discretamente sobre a toalha. Nenhum deles me prestava agora atenção. O mais velho, aparentemente mais sereno, ou desligado do tema, parecia “fora dali”, deu uma achega, insistindo também na ideia de que o mal não é dos políticos, mas sim dos portugueses. Que não cresceram, muito longe de entender o regime, e por isso, casos de falta de ética, de utilização ilícita de dinheiros públicos, atribuição de posições a familiares e amigos, de uma insana incapacidade de comunicar com a população, ou da mais vulgar irresponsabilidade nas tomadas de decisão, resultam de um quase inexistente escrutínio de cidadãos alheados, amorfos, preocupados com o seu funesto quotidiano por um lado, e por outro, de uma boa parte de jornalismo marcado por uma quase visceral agenda ideológica e/ou comercial. Depois disto, pirei-me para outra mesa. Próximo pouso; um pires com dois croquetes. Escusado será dizer que quando me preparava para a abordagem, sou acossada por uma vergastada de um guardanapo de pano empunhado por uma senhora de idade avançada, que não satisfeita ainda atirou; “oh menina, olhe que isto está cheio de moscas…”, claro exagero, na sala só estava eu, de insectos voadores bem se vê, logo deixei de estar, quando se desfez a mesa de três. O mais novo, mesmo na hora de dividir a conta, ainda insistia que a imagem dos políticos portugueses é apenas algo tremida, ou desfocada, muito por culpa de alguma comunicação social. “Conheço muitos bem honestos e competentes”! Rematou. E com esta voei dali para fora. Nem vos conto aonde fui pousar.

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