Naquela época ser militar era algo que lhes estava vedado. Pelos homens. As mulheres de Abril eram as que vinham de trás com a sua corajosa intervenção como jornalistas, escritoras, agricultoras, e sobretudo as que traçaram caminhos na luta pela promoção dos seus direitos. E depois claro, as que apoiavam os seus maridos na luta contra a ditadura, quase como “as de Atenas”, na canção de Chico Buarque. Se as mulheres não pegavam em armas de fogo, não puderam integrar os contingentes de militares que a 25 de Abril de 74 tomaram a capital, e desmembraram o regime que vigorava.
É por isso que se torna de elementar justiça eleger Celeste Caeiro como a “Mulher de Abril”. Pegou na “arma” que tinha mais à mão, e partiu, descendo a avenida rumo à frente da batalha. Distribuindo sorrisos, delicadeza e flores. Os cravos vermelhos que ao invés de levar para casa como o patrão lhe pedira, irmanou com as metralhadoras dos homens do exército que se preparavam, à porta do Quartel do Carmo para derrubar a ditadura. Dia bom para as floristas da baixa, que desataram a vender os seus cravos vermelhos, dando outro colorido à cinzenta manhã daquela quinta-feira. E assim, deste modo, um pequeno gesto fez história. Parece extraída de um filme, mas é bem real. Celeste morreu, a democracia cresce devagar, os cravos não se vendem tanto, e as mulheres já vão à tropa.