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A pandemia do nosso questionamento

A. Pinto Pires

Foi preciso que o cataclismo ocorresse para que o mundo se pusesse a pensar! Depois das duas guerras mundiais, este é por certo o momento em que todos se puseram de acordo, ou seja, o Covid 19, mexeu e mexerá com todos nós.

Apesar de tudo, tenho as minhas dúvidas porque o “Homo Sapiens” é um ser dominante, para não dizer teimoso, muito dado a uma construção empírica que o levou a construir uma “civilização” cada vez mais afastada da natureza, a pontos de encetar um combate sem paralelo com a natureza. Falamos do consumismo, e das inevitáveis consequências, bem à vista de todos.

O(s) diagnóstico(s) está feito, direi ainda, que nunca tanto se profetizou nos mais diversos campos e temáticas. Mas será que aprendemos a lição? Tenho as minhas dúvidas.

Claude Levy Strauss, numa célebre entrevista concedida já pelos finais da sua vida, estamos pelos anos 90 do séc. XX, foi o mesmo questionado sobre o comportamento humano, como seria, se ocorresse um cataclismo nuclear, ao que o mesmo respondeu, na melhor das hipóteses, poderia sobreviver um terço ou um quarto da humanidade, mas em termos de comportamentos futuros, acabaria por encetar os mesmos padrões.

Procurando tirar a devidas ilações, duma coisa não tenho dúvidas, e já o escrevi diversas vezes: podemos estar perante um colapso civilizacional, pois vejamos.

Muitos têm sido os “profetas”, mas prefiro acreditar nos que revelam trabalho de casa sem cair nos imediatismos fáceis dos tais da desgraça, um campo por onde não gostaria de entra para já!

Jared Diamond, biólogo e geógrafo admite em 49% de probabilidades, que em 2050 possamos assistir a uma derrocada do mundo tal como o conhecemos. Segundo Diamond, as alterações climáticas não são o principal perigo, mas sim a escassez de recursos, a ameaça nuclear e as desigualdades, sem contudo colocar em causa a extinção da espécie humana.

2050 poderá ser um ano / tempo de ruptura por se prever que a humanidade possa ter duplicado.

Naomi Klein, uma jornalista canadiana que não se tem cansado de criticar o capitalismo com todas as suas consequências, coloca a tónica central do seu “combate” na luta contra o aquecimento global como fonte de todos os problemas. Pelo que uma solução só pode passar por uma ruptura radical com a economia de mercado que coloca a primazia no consumo. Se não mudarmos radicalmente os nossos comportamentos, não poderemos pensar em cidades mais habitáveis, que contribuam para a felicidade das vidas dos seres humanos que as habitam.

Jeremy Rifkin aponta o dedo aos combustíveis fósseis, fazendo-nos acreditar que os mesmos já se encontram em declínio para dar lugar à proeminência do que chamamos energias limpas a acreditar na energia solar e eólica, determinante nos comportamentos dos mercados, um hipótese de sobrevivência da própria humanidade.

Pablo Servigne, engenheiro agrónomo, admite que da forma como a humanidade conduziu os seus comportamentos, os padrões comportamentais correm um sério risco de colapso, apontando o dedo à forma desenfreada como como a humanidade conduziu os seus comportamentos na exploração e gestão de recursos energéticos.

Em jeito de síntese, não me arvoro num excêntrico fascinado com o fim do mundo! Mas que esta crise tem produzido um enorme colapso nos padrões instituídos, disso não tenho a menor dúvida.

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