Procurar
Close this search box.

A parábola das cerejas

A.J. Pinto Pires

(Professor)

 

A cereja transformou-se num fator de riqueza para os locais onde as suas plantações surgem em proeminência. Quando elas chegam, por abril, maio, levanta-se sempre a incógnita dos elementos, sendo a chuva a principal adversidade.

Aqui bem perto os territórios estão bem identificados, a Cova da Beira, o vale de Jerte, na Extremadura espanhola, mais a norte no território de Resende, nas encostas do rio Douro.

A sua produção tornou-se uma obsessão, sobretudo para os produtores os quais pretendem obter a máxima rentabilidade neste evento anual.

Quando há anos visitei pela primeira vez o mesmo vale de Jerte, fiquei impressionado pela extensão destas plantações, mas sobretudo pela quantidade de produtores com as suas maquinarias para pulverização das mesmas, sobretudo pela forma intensa como o faziam, questionando-me sob que regras e como funcionam estes controles fito sanitários. Para lá das recomendações, colocou-se-me a questão do seu cumprimento e das necessárias consequências na saúde pública.

Um dia destes entrei para almoçar num pequeno restaurante da cidade, e não resisti à sobremesa, às ditas cerejas. O proprietário, teve logo o cuidado em me informar, antes que o questionasse, que as mesmas não tinham qualquer tipo de calda. E se elas eram saborosas! Mas logo acrescentou, …tenho lá um vizinho, que anda sempre a deitar calda nas dele…”. Comi, calei, mas aumentou a minha preocupação e ceticismo, pelas razões anteriormente enunciadas.

Outro caso recente ilustrador das inúmeras realidades que deambulam por aí, entrei numa cooperativa da região, de renome, sublinhe-se, com o intuito de adquirir o famoso produto. O preço até era convidativo! Mas como quando a esmola é grande e o santo desconfia, diz o adágio, iniciei uma pequena pesquisa pelo interior da caixa, e fiquei desapontado. Uma enorme quantidade das cerejas ora estavam rachadas ora podres. Questionada a funcionária, logo se justificou estarem do modo como as havia trazido para venda, o respetivo produtor. Só tive um desabafo, e até perante um ex-autarca local que no momento também por ali se encontrava: “…assim não vamos lá…”

Agora é frequente o panorama que se nos depara ao longo das estradas da Cova da Beira, os inúmeros vendedores por aí espalhados, ou os centros específicos, para venda exclusiva, e de novo o questionamento: com que segurança podemos adquirir tão apetecível fruto? Ou outros…

Às autoridades, dizemos nós, cabe sem dúvida uma palavra e não se fazer de conta ou deixar assim à rédea solta uma questão que faz parte da saúde pública.

Quem controla todo este vasto mercado que prolifera por esse país fora e quais as respetivas seguranças fito sanitárias!

Caso contrário, assim não vamos lá!

VER MAIS

EDIÇÕES IMPRESSAS

PONTOS
DE DISTRIBUIÇÃO

Copyright © 2024 Notícias da Covilhã