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Adufeiras do Paul colaboram com Ana Lua Caiano

Os sons contemporâneos e tradicionais estiveram em diálogo

As Adufeiras do Paul e uma das principais revelações da música portuguesa, Ana Lua Caiano, ensaiaram juntas durante uma semana, na Covilhã, e dessa colaboração nasceu pelo menos uma música que a compositora equaciona incluir no seu próximo disco.

O trabalho conjunto decorreu no âmbito do Festival Wool e culminou com um concerto na Covilhã, onde o novo tema, ainda sem nome revelado, mas em que a autora vai repetindo “eu já não posso”, foi pela primeira vez cantado ao vivo, numa versão ainda despida de outras sonoridades além da voz de Ana Lua Caiano e dos adufes.

A compositora, conhecida por juntar a música eletrónica e a tradicional, pondera agora acrescentar camadas, outros instrumentos e sons do quotidiano que costuma incorporar nas suas canções.

Depois de um primeiro dia de ensaios no Paul, os restantes decorreram no Centro Histórico da Covilhã, onde também participaram elementos externos ao grupo interessadas em integrarem as Adufeiras da Casa do Povo do Paul.

O tema criado em conjunto, durante a residência artística, recorre ao “ritmo dois/dois”, e da presença da artista na região pode resultar mais material, uma vez que o tempo foi também aproveitado para recolher sons de objetos ou de lugares, como “as composições” escutadas na maquinaria de fábricas de lanifícios ou de sons da natureza.

“Os ritmos que elas vão tocar comigo são ritmos que eu não conhecia tão bem”, referiu Ana Lua Caiano, que também aprendeu a pôr duas pedras da ribeira entre os dedos para acompanhar a canção “Lavadeiras”.

Durante a semana que passou na Covilhã, a cantora, de 24 anos, que tem pisado os principais palcos nacionais, trabalhou em oito canções e escreveu as respetivas letras. A canção com as Adufeiras do Paul surgiu naturalmente da sinergia criada durante os ensaios, ainda numa versão muito simples.

“No ensaio elas estavam a fazer um ritmo, eu disse-lhes para continuarem, cantei por cima e vamos fazer essa canção juntas. Se esta música avançar, elas também farão parte da gravação. É uma canção que pode ser interessante e penso que irá estar no próximo álbum”, adiantou Ana Lua Caiano, que recentemente lançou “Vou ficar neste quadrado”.

Em frente ao bombo, ao teclado, aos sintetizadores onde são criados os ‘loops’, à caixa de ritmos e a outros instrumentos a que a compositora recorre para ir densificando e acrescentando novas faixas às músicas, na sua estação de trabalho, estão adufeiras de várias faixas etárias.

A fundadora das Adufeiras do Paul Leonor Narciso, de 68 anos, agradece o “desafio que enriquece toda a gente que participou”, também “uma novidade” para a maioria o contacto com “este tipo de música”, e lamenta a falta de tempo para mostrar a Ana Lua muito mais sons alternativos e identitários com que habitualmente fazem música, e que ficará para uma próxima ocasião.

Empolgada, de sorriso largo durante todo o espetáculo, a acompanhar as letras, que sabe de cor, Catarina Geraldes, de 21 anos, é uma admiradora do trabalho da artista, que ouve constantemente, e possibilidade de poder observar o método de trabalho foi um momento especial.

“Isto que ela faz é também um sonho meu, que cresci no meio dos sons tradicionais e sempre gostei de os ver integrados em outros géneros”, frisa a jovem adufeira, desde criança membro do grupo, para quem “foi tudo tão natural”.

Para Maria do Céu Ferreira, 87 anos, esta é uma coisa diferente daquilo a que está habituada e mostra-se surpreendida com a sobreposição de melodias e os equipamentos utilizados por Ana Lua para fazer música.

Sueca residente na vila, Isabela Johansson, de 29 anos, considera que esta foi “uma boa oportunidade para misturar tradições e gerações”.

Autodidata no adufe, a covilhanense Diana Silva, de 32 anos, aproveitou a iniciativa para se juntar a um “espaço de comunhão” com a autora expoente da ‘folktrónica’, que é habitual ouvir, e com o grupo de adufeiras que admira e que tenciona passar a integrar.

“Sinto-me honrada e feliz por este trabalho colaborativo e comunitário que uniu mundos diferentes e vai influenciar gerações mais jovens. Isso foi o mais enriquecedor”, realça Diana Silva.

O resultado foi a união de dois universos distantes, mas também com muito em comum.

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