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“Além de uma pandemia sanitária, agora temos a pandemia social”

Notícias da Covilhã (NC)Como se deu a sua aproximação ao sindicalismo?

Sérgio Santos (SS) – Na empresa onde trabalho já assumia posições em defesa dos trabalhadores e, talvez por isso, em 2012 o então presidente do Sindicato Têxtil, Luís Garra, abordou-me para pertencer à direcção. Nessa altura não me sentia em condições de aceitar e, em 2015, fui de novo abordado para integrar a nova direcção. Depois de alguma reflexão, decidi aceitar e desde então faço parte, hoje como vice-presidente.

NC- Suceder a alguém emblemático no movimento sindical como Luís Garra torna a sua tarefa mais desafiante?

SS – O Luís Garra é e será sempre uma pessoa muito importante no movimento sindical, por tudo o que já deu e ainda dá. Ele continua a pertencer à direcção da União dos Sindicatos e do Sindicato Têxtil. Todos os dias aprendo algo com ele e sei que ele ainda tem muito para ensinar. Dito isto, o desafio do cargo é sempre elevado, estando o Luis Garra ou eu na coordenação. É normal que existam diferenças no método, já que somos pessoas diferentes, mas no essencial é um continuar de uma linha de acção e luta que esta direcção traçou e que luta após luta tem vido a dar frutos.

NC – Como é que as pessoas têm lidado com a mudança?

SS – Dentro da direcção da USCB não notei que tivesse havido qualquer animosidade ou descrédito, muito pelo contrário. Todos tentam ajudar da melhor forma, para que em conjunto possamos encontrar sempre as melhores formas de resolver o que se nos atravessa no caminho. O segredo está sempre na reflexão e no trabalho colectivo e é isso que procuro incentivar e praticar.

NC – Qual foi o principal desafio que encontrou?

SS – O próprio cargo de coordenação e a importância que ele tem é desde logo um desafio, pois dele deriva muita da dinâmica sindical, muito intensa e diversificada, que é preciso imprimir.

NC – Assumiu o cargo de coordenador em plena pandemia. Quais são os impactos mais significativos que a covid-19 teve junto dos trabalhadores?

SS – Os trabalhadores do nosso distrito são maioritariamente trabalhadores que recebem salário mínimo, muitos estão ou estiveram em ´lay-off` e os trabalhadores perderam uma parte do seu já pequeno salário. Falo de trabalhadores do turno geral, mas se for para trabalhadores do segundo ou terceiro turnos, as perdas são muito maiores. Para um trabalhador dos lanifícios que esteja no terceiro turno, a perda chega a ser de cerca de 300€ a 350€. Ora isso, para uma família, é insuportável, ainda para mais com a subida dos passes sociais de 18 euros para 39 euros. As perdas são muito grandes. Numa altura como esta, em que as famílias deviam ser ajudadas, ainda pioram a sua situação.

NC – O que falhou?

SS – O Governo, no início da pandemia, disse que, para as empresas terem o incentivo, não podiam despedir ninguém. Esqueceram-se foi de proteger os trabalhadores que tinham vínculos precários, chegaram ao fim do contrato e foram despedidos, quando em situação normal os contratos iriam ser renovados e os trabalhadores passavam aos quadros das empresas. No nosso distrito, as empresas que despediram pessoas foram muitas. Grandes grupos lançaram no desemprego centenas de pessoas, mas essas grandes empresas não se coibiram de ir solicitar apoios de que não necessitavam, pois durante anos tiveram milhões de lucros, o que fizeram a esses milhões? Os trabalhadores que foram lançados no desemprego eram na sua maioria jovens, mas também alguns menos jovens que neste momento têm o seu futuro incerto, pois para as empresas são velhos para trabalhar, mas são novos para entrarem na reforma. Por isso, além de uma pandemia sanitária, agora temos a pandemia social.

(Entrevista completa na edição papel)

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