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Apaziguamento e paz

António Rodrigues de Assunção

A guerra na Ucrânia já vai nos setenta e tal dias e não há sinais, infelizmente, de que as partes calem as armas e avancem na procura dos caminhos da Paz.

Falar aqui de Paz não é o mesmo que falar de Apaziguamento. É importante a distinção, para evitar riscos de equívocos e de, em sequência, se comprometer o futuro da Paz. Falar disto tem toda a razão de ser, como realçou Immanuel Kant, o filósofo que publicou, em 1795, o Manifesto para a Paz Perpétua entre os Estados. Ele avisou no 1.º Artigo do texto que «não deve considerar-se como válido nenhum Tratado de Paz que se tenha feito com a reserva secreta de elementos para uma guerra futura». Com isto, ele deixou claro, entre outras coisas, que há que evitar as tentações do Apaziguamento que só podem ser nefastas e comprometer o caminho da paz.

Em que consiste o Apaziguamento? O termo significa “aquietar”, “pacificar”. Normalmente – e a História Universal abunda em situações destas – o apaziguamento é direccionado ao invasor, ao agressor, ao fautor da guerra. O exemplo histórico mais próximo de nós teve lugar no contexto da Segunda Guerra Mundial, quando políticos das democracias europeias, como Chamberlain e Halifax, pelo Reino Unido e Daladier, primeiro-ministro da França, tudo fizeram, de cedência em cedência, para demover Hitler de, depois da anexação da Áustria, em 1938, não prosseguir com novas conquistas e assim se evitar uma nova Guerra Mundial. Na Conferência de Munique, que teve lugar em 29 de Setembro de 1938 com Hitler, Mussolini, Daladier e Chamberlain, o objectivo era a discussão do futuro da Checoslováquia e da sua Região dos Sudetas, esta cobiçada pelo ditador alemão. Para satisfazer ou “apaziguar” Hitler, os Sudetas e o controle da Checoslováquia foram cedidos à Alemanha. Com isto, Chamberlain e Daladier, na sua ingenuidade e pusilanimidade, regressaram aos seus países, cheios de ufania e proclamaram a «paz do nosso tempo». Pura ilusão! Hitler, como todos os ditadores, queria mais e olhava de alto, com desprezo para os políticos das democracias europeias. E, como sabemos, Hitler, não só invadiu a Checoslováquia e a destruiu, como, em breve, seguia no caminho do seu expansionismo, invadindo e anexando a Polónia, que partilhou com a União Soviética, e, mais tarde, outros países europeus como a Holanda, a Bélgica, a Dinamarca e a própria França. É caso para perguntar se os «pacifistas» do tempo, ou seja, os adeptos do “apaziguamento”, não aplaudiram todas estas cedências destinadas a apaziguar o líder Nazi. E não esqueçamos outra coisa: Hitler sabia muito bem com quem lidava, conhecia bem o medo e as fraquezas dos políticos europeus e, por isso, quis, exigiu, sempre mais. Não se pode negociar com ditadores, proclamava o grande Winston Churchil, antes têm de ser combatidos. Imagine-se o que seria hoje a Europa e o Mundo se não tivesse sido feita guerra à Alemanha nazi.

Nos nossos dias, alguns, confundindo Paz com Apaziguamento, condenam o apoio militar à Ucrânia e até sanções à Rússia, negando ao país invadido e agredido o direito de se defender de uma invasão e de uma guerra que viola todos os princípios da civilização comum à humanidade. Passando-se por paladinos da Paz, mais não fazem do que exigir à Ucrânia que deponha as armas, como condição para que se iniciem os caminhos da paz. Putin agradece, rindo-se certamente cheio de desprezo por estes ingénuos pacifistas.

A Paz por que ansiamos chegará por fim. Mas sem Apaziguamento. As armas calar-se-ão e darão então lugar a uma Paz assente na solidez dos Princípios.

 

 

 

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