Era uma terça-feira como outra qualquer. A manhã informativa dava conta de que a Polícia Judiciária, suspeitando de corrupção, fazia buscas na sede da Federação Portuguesa de Futebol. Como que festejando o primeiro mês do mandato do novo presidente da instituição, e precisamente no dia em que o anterior presidente tomava posse como novo presidente de outra instituição do foro desportivo. O Comité Olímpico de Portugal. Sim reconheço, parece um pouco confuso até para os leitores mais atentos ao fenómeno do dirigismo no desporto. Tão extraordinariamente confuso que os portugueses ao pequeno almoço se perguntavam de quem é que a Judiciária andava atrás. Se de Proença, o novo, se de Gomes, o antigo. A dúvida seria dissipada porquanto a investigação de há anos apontava para suspeitas de corrupção, recebimento indevido de vantagem, participação económica em negócio e fraude fiscal qualificada. Tudo isto relacionado com a venda da antiga sede da FPF durante um dos mandatos de Fernando Gomes. Com Proença fora da equação, a gestão de Gomes poderia estar em causa. Nada disso. Engano puro. A PJ apontou três suspeitos, e nenhum deles era o antigo presidente da federação. Mais, a polícia de investigação criminal não só não andava atrás de Gomes, como prontamente se colocou a seu lado. Foi bonito de ver, de sentir, o gesto de Luís Neves, director nacional da Judiciária, quase de braço dado com o empossado presidente do COP, como que dizendo; tem tudo a ver com ele, mas ele nada tem a ver com tudo. Confusos?! Claro que não. Afinal era uma terça-feira como outra qualquer, em que inicialmente tudo parece estranho, como logo a seguir se entranha.
E assim dessa maneira, e naquela terça-feira, o país encara com normalidade a ida do ex, actual e quiçá futuro primeiro-ministro, ao confessionário. Perdão… não era o que eu queria escrever. Em rigoroso exclusivo, Luís Montenegro prestou-se a uma extensa e escrutinada entrevista feita por … Manuel Luís Goucha. Afinal quem dizia que o líder do PSD não estava muito disponível para se abrir, enganou-se redondamente, tal a forma como se exaltou, se emocionou, se explicou, e no fundo confessou, num raro momento de ir às lágrimas, tudo o que lhe vai na alma. No fundo um homem do povo, uma pessoa normal que “tanto entra numa tasca como num palácio “, filho de uma mulher trabalhadora, e que faz tudo pela família. Se alguém, sobretudo os milhares de fiéis seguidores do animador da TVI e mole imensa de eleitores, tinha dúvidas sobre o carácter deste líder, tê-las há dissipado naquele momento de tamanha exibição de humildade. É disto que o meu povo gosta, como dizia o narrador desportivo Jorge Perestrelo quando se referia a grandes momentos no futebol. Nesta idílica terça-feira, se o golo de Gomes, foi marcado por Neves na própria baliza, já no de Montenegro, o guarda-redes estendeu-lhe a passadeira.