André Leitão
Médico no CHUCB
Árvores altas são um bem que começa a rarear na nossa região. Estas elegantes projecções de vida da terra para o céu dão-nos sombra para caminhar, purificam-nos o ar produzindo oxigénio e filtrando poluentes, atenuam o ruído ambiental, abrigam pássaros e outra biodiversidade, conservam o solo e a humidade e contribuem ainda para o arrefecimento ambiental. Estudos revelam que pode haver diferenças de entre 5º a 12º C entre zonas urbanas arborizadas e zonas desarborizadas. A presença destas árvores tem benefícios directos já demonstrados na saúde humana a nível respiratório, de saúde mental e da diminuição dos riscos de saúde associados às ondas de calor.
Poderíamos pensar que, em pleno século XXI, a catástrofe ambiental em curso teria já levado a uma consciencialização social da sua importância fulcral para o combate às alterações climáticas e para a qualidade de vida em meio urbano, onde as árvores são o oásis natural possível no meio de tanto betão, fumo de escape e alcatrão. E assim é em muitas cidades do mundo, e também do nosso país, onde os decisores públicos já lhes dão a prioridade devida no equilíbrio urbanístico desejável.
Mas o município da Covilhã, apesar de integrado numa região que vende uma imagem de suposta maior integração com a natureza, persiste como um péssimo exemplo, pela forma como desbarata o património arbóreo que possui. E nem é preciso falar hoje das inenarráveis podas mutiladoras com que as árvores da cidade e freguesias são brindadas ciclicamente, deixando um raquítico cepo como vestígio do que foi, ou poderia ser, uma árvore saudável. Basta estar atento ao persistente abate de plátanos no nosso concelho, que continua a bom ritmo. Apesar da aprovação no ano de 2023 do Regulamento Municipal de Gestão de Arvoredo em Meio Urbano, os exemplos práticos mais recentes sugerem que este será coisa para inglês ver.
A razia que sofreu a (anteriormente bela) Avenida das Termas em Unhais da Serra foi escândalo que a população já fez chegar às páginas deste jornal e aos noticiários nacionais.
Menos badalado será o caso da EN230, a estrada “velha” que liga o Tortosendo à Covilhã, ladeada de plátanos, memória reminiscente de um tempo em que os homens usavam as árvores como aliadas ainda noutra função, a fixação de taludes. Pois foi aqui que as motosserras financiadas pelos nossos impostos fizeram nova incursão assanhada, para abate de mais de uma dezena de árvores de grande porte na zona do Espertim.
Poderão tentar vender desculpas como o mau estado fitossanitário das árvores, mas um olhar atento pela grande maioria dos cortes efectuados na EN 230 não revela sinais de doença, apenas troncos saudáveis. Outra desculpa associada, o risco de queda em temporais, também não serve, pois o corte efectuado, do tipo árvore sim-árvore não, apenas serve para expor mais ao vento cada árvore individualmente, que estaria mais bem protegida se fosse mantida uma malha arbórea mais densa. É de referir ainda que a maioria dos plátanos cortados não ladeava directamente casas.
Resta-nos, pois, a incompreensão, a incredulidade e a indignação perante estes actos continuados, que são responsabilidade última da Câmara Municipal da Covilhã.
Pelo ritmo que tem levado o paulatino mas persistente abate dos plátanos da EN230, já não durará muito a sombra proporcionada por estas vetustas árvores. E quem resistir a percorrê-la com calma, a pé ou de bicicleta, para melhor sentir o alcatrão ardente, poderá apreciar e reflectir sobre os cotos das árvores de outrora. Que tamanho mal terão feito para merecer estes cortes rasos, estas mentes curtas?