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As couves e o bacalhau que ajudaram os judeus a permanecerem escondidos

Hoje, em Belmonte, a Comunidade Judaica vive o Natal como “um dia normal”. Mas tempos houve em que, para permanecerem despercebidos, os judeus partilhavam os hábitos e costumes cristãos nesta época do ano

“Comíamos o bacalhau, as couves, participávamos na festa do Natal. E até púnhamos prendas no sapatinho”.  Era assim que, quando os judeus, em Belmonte, queriam permanecer mais incógnitos, o Natal se passava, com a comunidade a “vestir”, por esses dias, a pele de cristão (os chamados criptojudeus) de modo a não ser reconhecida. Foi assim nos tempos de maior perseguição, garante Carlos Mourão, judeu que reside na vila, que conta que, se há 20, 30 ou 40 anos atrás era preciso fazer-se passar por cristão, hoje isso já não acontece. E sendo o Natal a festa do nascimento de Jesus, ela hoje pouco ou nada diz à Comunidade Judaica, que, contudo, na vila, tenta reunir-se.

“O Natal é um dia normal, para nós. Como os outros. As famílias, contudo, fazem por reunir-se e existem algumas tradições que ainda hoje se mantêm. Antes, por causa do secretismo, era diferente. Comíamos o bacalhau, as couves e passávamos despercebidos. Mas Belmonte foi sempre um sítio onde os judeus foram bem acolhidos, embora a comunidade se fosse precavendo” conta Carlos Mourão, que diz que hoje, “com toda esta abertura, não temos nada a esconder. O que transmitimos em casa podemos transmitir para todo o mundo” garante.

A Comunidade Judaica de Belmonte, que tem vindo a decrescer nos últimos anos, tem este mês festejado a tradicional Festa das Luzes que, curiosamente, coincide com a quadra natalícia, embora nada tenha a ver com a mesma. A efeméride, o chamado Hannukah, em hebraico, assinala a libertação e purificação do templo de Jerusalém. E o “milagre” da luz, quando recuperado o Templo aos gregos, o azeite para o candelabro sagrado que dava apenas para um dia, deu para este brilhar durante oito dias, simbolizando assim a sobrevivência espiritual judaica.

“Esta festa sempre teve grande significado. Antigamente, era vivida de outra forma. Hoje podemos fazer diferente. Antes era com as velas de azeite, em que todos os dias se acendia uma” frisa.

Certo é que nos últimos anos, foram muitos os judeus de Belmonte, em especial os mais novos, que deixaram a vila. Segundo Carlos Mourão, devido a vários fatores, mas sobretudo, devido à falta de emprego. “Não há trabalho. Belmonte não é aquela vila que proporciona grande estabilidade aos jovens. Escolheram, e bem, Israel. Só cá ficaram os mais idosos” lamenta este judeu que, contudo, não acredita que a Comunidade Judaica de Belmonte se extinga, apesar de ter apenas 52 elementos (cerca de 30 estão emigrados). “Ponho reticências grandes, porque há pessoas que gostavam de vir para cá. Se houvesse boas condições cá, de certeza absoluta que já teríamos mais famílias” assegura.

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