Zero. É este o montante que em 2022 a Câmara de Belmonte vai atribuir às diversas colectividades e associações do concelho. A medida foi aprovada em seio de Assembleia Municipal na terça-feira, 15, aquando da votação das alterações orçamentais de 2022. Uma proposta do executivo camarário que “passou” com votos favoráveis do PS e três presidentes de Junta socialistas(10), mas voto contra da bancada do PSD, presidente de Junta de Caria e da única deputada da CDU (9).
Numa sala onde se fizeram representar alguns dirigentes associativos, o presidente da autarquia, Dias Rocha, assumiu a responsabilidade pela falta de verbas às colectividades do concelho em 2022. “Tínhamos atribuído um total de 400 mil euros, mas assumo a responsabilidade de tirar os subsídios às colectividades. Provavelmente, nunca aconteceu isto. A partir de Janeiro (2023) começam a receber. Se sobreviveram até agora, penso que não irão agora fechar portas” disse o autarca, apelando ao “esforço” da cada uma, num ano difícil. Dias Rocha disse que há algumas muito importantes, como a Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Belmonte, União Desportiva de Belmonte, União Desportiva Cariense, CCDR Colmeal da Torre, CECURDE- Carvalhal Formoso e “Rádio Caria”, através da Associação Cultural e Recreativa de Caria, que em Janeiro receberão os normais duodécimos, mas outras sobre as quais os apoios passarão a ser mais pontuais, ao abrigo de um novo regulamento de apoio ao associativismo que está a ser elaborado. “Terão que se aguentar até Janeiro” frisa o presidente da Câmara.
O tema foi levantado pelo deputado do PSD, Carlos Pinheiro, que recordou ser esta “a primeira vez” que as associações não terão apoios. E criticou a opção da autarquia em apoiar, individualmente, alguns atletas. “Qual o critério” perguntou, dizendo que as colectividades foram apanhadas “de surpresa” com esta medida.
Da mesma bancada, Tiago Gaspar acusou o executivo de faltar a “um compromisso” que estava estabelecido com entidades que desempenham um papel importante na sociedade, algumas com estatuto de utilidade pública. “É grave”, diz, acusando o presidente Dias Rocha, vice-presidente Paulo Borralhinho e o vereador independente André Reis de terem dado aval à medida. “É tirar dinheiro para pagar dívidas, numa quebra de compromisso sem precedentes. Não existe diferença nenhuma entre estes três senhores” acusa. Já Acácio Dias, também do PSD, acredita que assim “pode estar mesmo em causa a existência das colectividades”.
Quanto ao líder da bancada “laranja”, António Cardoso Marques, afirma que este procedimento é “inaceitável, que o povo “não se esquecerá” daquilo a que chama “faltar à palavra”, e recorda que muitas destas instituições vivem à base do trabalho de dirigentes, voluntários, que nada recebem “e fazem este papel por carolice”, o que pode levar ao afastamento das pessoas da vida associativa. “É mais uma machadada na atractividade deste concelho” afirma.
O presidente da União de Freguesias de Belmonte e Colmeal da Torre, Hugo Adolfo (que votou a favor, tal como os outros presidentes de Junta, à excepção de Caria) disse ficar “triste” com a falta de verbas este ano, mas recorda que, se ao longo dos anos houve algum executivo que apoiou as colectividades foram sobretudo os liderados por Dias Rocha.
Já o vice-presidente da Câmara, Paulo Borralhinho, recorda que nos dois anos de pandemia a autarquia pagou sempre os duodécimos, mesmo que as associações não tivessem actividade face à covid-19, o que terá permitido que tivessem agora “uma almofada” para fazer face a esta situação.