“O que é que estão a fazer pelo Interior? Até agora, não vi fazerem nada”. Foi esta uma das críticas deixadas na passada quarta-feira, 25, pelo presidente da Câmara de Belmonte, António Dias Rocha, ao Governo, depois de contestar a demolição das antigas casas de funcionários na estação de Belmonte, sem ter havido sequer informação de tal à autarquia.
O autarca lamenta que, numa linha que abriu há cerca de ano e registou mais de 25 mil passageiros no troço entre Guarda e Covilhã, não haja um investimento adequado. “Acham possível que em Belmonte a estação (bilheteira) nunca tenha aberto? Que na Covilhã, uma cidade universitária, esteja fechada em determinadas horas do dia? Sei que pedem às pessoas para recorrerem à Internet, mas os nossos idosos? Como fazem?” pergunta o autarca. “Tenho imenso respeito pelo meu partido (PS) e pelo Governo, mas que olhem pelo Interior. Nós não estamos longe, estamos a apenas duas horas de Lisboa” frisa.
Dias Rocha diz ter ficado “muito surpreendido” com a demolição, por parte da REFER, dos edifícios que albergaram, em tempos, funcionários da Linha da Beira Baixa, na estação de caminhos-de-ferro de Belmonte. “Já as tinha lá ido a ver e, se calhar o erro da Câmara, foi não dizer logo que poderia ter algum interesse nelas” diz o autarca que, em tempos, já tinha abordado o assunto, querendo reunir com a REFER para esse fim. “Mas eles também não nos disseram nada. Porque é que as demoliram sem nos dizerem nada? Houve negociata, de certeza” acusa o presidente da Câmara. “Isto é inadmissível. Os funcionários das empresas públicas não deveriam estar com o rabo sentado em Lisboa, mas sim vir cá, ao terreno, ver” aponta o autarca, que promete reunir com o ministro das Infraestruturas e Habitação, Pedro Nuno Santos, e presidente da IP (Infraestruturas de Portugal).
Recorde-se que há cerca de duas semanas, as antigas casas de ferroviários existentes na estação começaram a ser demolidas e hoje, já não existe nada ali, já que todo o entulho já foi recolhido. A Associação Move Beiras, sedeada na Benespera, condenou o acto que considera “um contrassenso” perante a ideia de dinamizar o Interior e potenciar a utilização do comboio nas Linha da Beira Baixa e Linha da Beira Alta. “Num troço reinaugurado há precisamente um ano é incompreensível esta decisão tomada pelas Infraestruturas de Portugal. Muito tem sido feito para a utilização frequente deste serviço quer seja ele recorrente, quer seja a nível de turismo. Numa altura em que o turismo ferroviário está em ascensão no nosso País, em que temos várias pessoas e entidades sensíveis a este tema, este tipo de demolições é encarada como uma ofensa à História Ferroviária. Defendemos a reabilitação destes mesmos edifícios / construções para diversos fins” frisa em comunicado.
A Associação considera que antes de uma demolição como a que ocorreu em Belmonte “a IP, através da IP Património, deveria auscultar as instituições e intervenientes no desenvolvimento da região” e não “apagar assim uma parte dessa história, um contrassenso quando existem planos de reabilitação em curso de bairros com estas caraterística (Bairro Camões e Bairro do Boneco no Entroncamento) ou concluídos (Bairro do Barrocal em Castelo Branco) para dar uma nova vida a infra-estruturas que, outrora, tiveram um papel importante no caminho de ferro de Portugal e em particular da Beira Baixa. Restam muito poucos edifícios, não destruam mais a nossa identidade, apoiem o Interior” pede.