“Eu nunca julguei que se voltassem a dizer estas coisas”. A afirmação, feita na Covilhã, é de Isabel do Carmo, médica endocrinologista de 83 anos, que integrou na década de 60 o PCP, foi prisioneira política, fundou as Brigadas Revolucionárias e foi líder do PRP.
Isabel do Carmo considera existir “um risco real” de retrocesso de direitos conquistados, nomeadamente relativamente à mulher, embora entenda que as conquistas de Abril, como a liberdade, a alfabetização da população, existirem mais mulheres nas universidades, tenham criado uma estrutura que torne muito difíceis eventuais recuos nos direitos.
A médica alerta que há sinais a que se deve estar atento e considera ser necessário os democratas organizarem-se, “mas com os meios deles, não com discursos”. A ativista menciona “a avalanche” de forças radicais de direita na comunicação social, nas redes sociais e nas plataformas digitais e considera que deve ser utilizando os mesmos métodos que se combatem ideias como a superioridade dos brancos, tratar mal os imigrantes ou a ideia de família em que a mulher é sempre inferiorizada.
“O 25 de Abril não passou uma esponja sobre as caraterísticas da sociedade”, frisa a antiga militante clandestina, que não olha para os 50 deputados do Chega como fascistas, embora veja alguns como “ideologicamente e profundamente enraizados no pensamento fascista”.
Isabel do Carmo sublinhou que, após o 25 de Abril, a palavra fascista foi utilizada por vezes gratuitamente, como insulto, se banalizou e isso “pode ter agora repercussões”, por exemplo quando “se nega o caráter fascista da ditadura”, alertando que tal se baseia em bases científicas, mas que teve aspetos diferentes nos diferentes países e “tem uma raiz ideológica”.
“Devemos estar atentos, porque não é uma palavra vazia, é uma palavra que tem conteúdo. Tem conteúdo histórico, tem ideias implícitas e nós temos mesmo, agora, neste momento, de começar a combater essas ideias”, preconiza.