Beira Interior prevê quebra de 20 por cento na produção de azeite

Novembro é mês de colheita de azeitona na região. Seca dos últimos meses e até os incêndios tiveram impacto na produção

“A azeitona já está preta, já se pode armar aos tordos”. A frase, da célebre música popular “Chapéu Preto”, do músico e compositor natural da Soalheira (já falecido) Arlindo de Carvalho, ainda não é, nesta altura do ano, 100% verdadeira em todos os olivais da Beira Interior (depende das zonas). Aliás, há pequenos agricultores ouvidos pelo NC que asseguram que a azeitona “ainda está verde” e se colhida muito cedo, dará uma “má funda”, ou seja, mais quilos de azeitona para se ter um litro de azeite. Mas seja como for, haverá também sítios em que a maturidade do fruto já estará perto de acontecer.  Novembro é mês de colheita de azeitona, em alguns locais, já se começa a ver gente de volta das oliveiras, mas este ano, segundo a Associação de Produtores de Azeite da Beira Interior (APABI), as expectativas é de que a produção baixe, na ordem dos 20 por cento face a 2024.

Segundo Ana Domingos, desta associação, em resposta ao NC, na Beira Interior “prevê-se uma quebra da produção de azeite, devido há diminuição da quantidade de azeitona, admitindo 20%, podendo existir variações nalguns concelhos da região.” Segundo a APABI, tanto na Beira Interior como nas várias zonas do País, a seca dos últimos quatro meses e as temperaturas altas durante a maturação da azeitona “provocaram desidratação do fruto afetando a produtividade, sendo a maioria dos nossos olivais de sequeiro.” A associação que representa dos produtores dos distritos de Guarda e Castelo Branco salienta que até nos olivais de regadio “a falta de água provocou um impacto na produção” e que aliado às condições climatéricas adversas deste ano, “tivemos o facto dos incêndios na nossa região”, que também “influenciou a quebra de produções em alguns concelhos.”

Apesar da quebra em termos quantitativos, espera-se que este ano o azeite “seja de melhor qualidade em relação ao ano anterior”. Porém, o mesmo poderá ser mais caro que no ano passado, devido à quebra. Ou seja, menos oferta, mais procura, preço maior. “O preço de azeite oscila muito durante a campanha e existe a possibilidade de aumentar devido há quebra de produção existente” salienta a APABI.

De acordo com os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), no que respeita à área de olival, em 2023, na Região Centro, existia uma área de olival de 62 mil 297 hectares. Quanto a lagares, na Beira Baixa, e de acordo com a mesma entidade, existiam 55 lagares de azeite, sendo que destes, 32 eram tradicionais e 21 contínuos de duas fases e dois contínuos de três fases. Já na Beira Alta, existiam 36 lagares de azeite, em que 12 lagares eram tradicionais, 13 contínuos de duas fases e 11contínuos de três fases.

Habitualmente, nesta altura do ano, uma das dificuldades dos agricultores é saber para onde encaminhar a sua azeitona e, muitas vezes, à porta dos lagares, criam-se filas de espera, de quem aguarda pela moagem do fruto, havendo mesmos listas de espera de semanas para que o azeite possa ser recolhido. A APABI salienta que, haver ou não lagares suficientes para os produtores locais depende, “quer dos anos, quer da produção, quer essencialmente da data de abertura e logística do lagar.”

Um ano “médio” em 2024

No ano passado, a produção de azeite na Beira Interior foi considerada pela APABI um “ano médio”. Houve mais azeitona que em 2023, num ano estável, mas em alguns locais antecipou-se a colheita (por esta altura já muita gente tinha colhido azeitona e já tinha azeite em casa) de modo a evitar o aparecimento de doenças e pragas, como a mosca ou a gafa, para evitar uma má combinação entre as temperaturas que se registavam e a humidade. Em outubro já havia muitos lagares a laborarem, por forma a que a azeitona entrasse lá isenta de pragas ou doenças, algo que este ano não acontece face ao tempo que tem sido diferente.

Na Beira Interior, a maioria dos olivais são de sequeiro, um olival tradicional, dependente da mãe natureza, face aos poucos olivais “mais empresariais, com tratamentos e com rega”, explica a APABI. Nos quatro a cinco anos anteriores a 2024, de seca severa, as oliveiras ressentiram-se da falta de água e por isso, a quantidade de azeitona foi menor.   Na Beira Interior a campanha da azeitona pode ir até ao final de dezembro e, nos locais mais frios, como é o caso da zona mais a norte, pode entrar pelo mês de janeiro.

Há agricultores ainda à espera de apoios face aos incêndios

No último verão, foram muitos os agricultores da região afetados pelos incêndios, que destruíram grande parte das culturas, entre as quais o olival, mas também outro tipo de árvores de fruto. Segundo a Associação de Agricultores de Castelo Branco, no final de outubro, a grande maioria dos produtores ainda não tinha recebido qualquer apoio dos que foram aprovados a 21 de agosto em Conselho de Ministros, face aos prejuízos.

A Associação Distrital dos Agricultores de Castelo Branco inquiriu “aleatoriamente”, no final de outubro, 34 associados das freguesias afetadas pelos incêndios e destes inquiridos “apenas um já recebeu a prometida ajuda”. No que toca aos outros, 16 já tinham feito a declaração dos prejuízos e estavam a aguardar que fosse feita a necessária vistoria, seis agricultores já tinham essa mesma vistoria feita e aguardavam o pagamento, sete estavam a tratar de documentação e quatro responderam que ainda podiam vir fazer a declaração dos prejuízos.  “Desta amostragem conclui-se que contrariamente ao prometido pelo Governo muitos agricultores vítimas dos incêndios ainda não receberam qualquer ajuda. Passados mais de dois meses após os incêndios a medida do restabelecimento do potencial produtivo ainda não foi publicada e os agricultores não podem fazer a candidatura” denuncia a Associação, que exige que o Governo “agilize os processos e apoie rapidamente os agricultores.”

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