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Câmara de Idanha condena interrupção “violenta” de apresentação de livro

Autarquia diz que se reserva o direito de apresentar queixa no Ministério Público sobre a invasão da apresentação pública do livro “Mamã, quero ser um menino”

A Câmara de Idanha-a-Nova, em comunicado, acusa a associação Habeas Corpus de, no passado sábado, 3 de agosto, ter interrompido de “maneira violenta” a apresentação do livro “Mamã, quero ser um menino”, da autoria de Ana Rita Almeida, que decorreu no Centro Cultural Raiano, e diz que se reserva “o direito de apresentar queixa ao Ministério Público” para apuramento dos factos.

Esta obra, tal como outras duas, foi apresentada naquele local, no âmbito da realização de mais uma edição da Feira Raiana, mas acabou por ser interrompida por elementos da Habeas Corpus. “Esta não é a primeira vez que esta associação se comporta desta maneira violenta” frisa a autarquia, que salienta que este comportamento “não é admissível num Estado de Direito em que a liberdade de expressão é um dos direitos fundamentais”.

A autora do livro já avançou que ia avançar com uma queixa contra elementos da associação Habeas Corpus, após terem invadido a apresentação, e em comunicado, a autarquia mostra o apoio a Ana Rita Almeida, “na defesa da sua liberdade de expressão, opinião e manifestação literária”, estando disponível para “colaborar com a mesma e com as autoridades no apuramento das responsabilidades que se mostrem pertinentes, relativamente ao ocorrido”.

À Lusa, a escritora diz que foi “uma coisa atroz, para criar desacatos e desinformação”, que os autores gritaram ‘isto acabou aqui’, questionando “porque se estava a apoiar um livro homossexual. Fui retirada da sala, juntamente com o presidente da Câmara Municipal, que também tinha feito uma intervenção momentos antes”, descreveu.

Em comunicado, a Câmara garante que “nunca se deixará amedrontar por movimentos extremistas, racistas e xenófobos”, acusando o ex-juiz Rui Fonseca e Castro de ter apelado nas redes sociais ao “boicote da apresentação do livro”. Na página da Habeas Corpus, no Facebook, Fonseca e Castro acusou a autarquia de promover uma obra que “promove a mutilação de adolescentes e jovens mulheres portuguesas”, e disse que o autarca, Armindo Jacinto, e a autora, Ana Rita Almeida, fugiram escoltados pela GNR porque foram “apanhados num acto tenebroso e nojento”, que “visa a deterioração da nossa sociedade”.

A autarquia raiana afirma que Jacinto e a escritora foram retirados do local “por indicação das autoridades policiais”, com o “intuito de acalmar o ímpeto do referido grupo e assim evitar eventuais agressões físicas aos presentes”. A Câmara assegura ainda que não se deixa intimidar “por pessoas que, de forma desordeira, prepotente e intimidatória, entraram aos gritos na referida sala, empurraram cadeiras e, sem qualquer autorização, colaram cartazes nas paredes”. E garante ainda que irá continuar a apoiar manifestações artísticas, a organizar e promover todas as iniciativas de expressão artísticas que respeitem os valores fundamentais que são a base de um Estado de Direito.  “Trata-se, a nosso ver, do mais elementar serviço público e não deve ser confundido com qualquer imposição de uma determinada ideologia” frisa.

O município raiano recorda ainda que a identidade de género é um tema “muito pertinente nos tempos que correm e não devemos ter receio de o abordar, discutir e enfrentar, trocando ideias e opiniões e transmitindo a nossa posição sempre de forma construtiva e sadia”. E que este livro terá, “pelo menos, o condão de despertar consciências sobre o tema e promover a sua discussão.”

“Não é admissível ficar indiferente perante tamanha agressão ao coração da nossa democracia, a liberdade de expressão” remata a Câmara de Idanha-a-Nova.

 

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