Câmara “não está isenta de lacunas” na degradação do espaço público

Vítor Pereira aponta, em alguns casos, o vandalismo gratuito para cenário de destruição. Quanto aos elevadores parados, peças avariadas que já não existem no mercado são uma das causas

O presidente da Câmara da Covilhã, Vítor Pereira, reconheceu na passada segunda-feira, 30, durante a Assembleia Municipal, que a autarquia “não está isenta de algumas deficiências ou lacunas” na manutenção de espaços verdes e equipamentos urbanos da cidade, mas garantiu, contudo, que foram dados “alguns passos importantes” nesta matéria.

O tema foi apresentado pela bancada da CDU para debate dos grupos municipais, com o deputado Vítor Reis Silva a apresentar diversas fotos de espaços destruídos, degradados e onde a vegetação já tomou conta dos mesmos. “Uma imagem vale mais que mil palavras” disse Reis Silva, que pediu “intervenção urgente” em alguns dos locais.

O deputado apontou casos como o Parque Verde da Floresta, o Circuito de Manutenção, o Parque Alexandre Aibéo ou Parque da Goldra como exemplos negativos de espaços onde os equipamentos estão degradados e sem manutenção. Segundo o deputado da CDU, está “tudo abandonado” em muitos destes espaços públicos, que são um “mau postal para quem nos visita, da cidade e da própria Serra da Estrela”.

Vítor Reis Silva denunciou ainda, no que diz respeito aos equipamentos urbanos, a situação de elevadores ou funiculares parados, como o de São João de Malta, que está “temporariamente indisponível, mas já lá vão meses”. Ou a pista de tartan do Complexo Desportivo que onde é “impensável o treino”. Para Reis Silva existem diversos outros sítios, como ruas ou passeios, que “não conferem qualidade de vida a quem cá mora” e que este exercício que fez “não é de maldizer”, mas de alerta para a necessidade de intervenção. Segundo ele, muitos destes casos nem sequer requerem avultados investimento e são sobretudo o resultado “da incúria e do desleixo”, acusando a autarquia de descurar o setor dos trabalhadores externos, da limpeza e manutenção, o que “não é uma boa política”.

Fernando Pinheiro, do movimento “Covilhã tem força”, afirma que “não há dúvidas de que está bastante degradado” o espaço verde e urbano na cidade, mas que hoje, com alguns meios técnicos mais avançados, é possível fazer um maior número de intervenções, em termos de manutenção, aconselhando o executivo a “investir nesta área”. O deputado apelou também a campanhas de sensibilização para um maior civismo do cidadão e sugeriu a instalação de câmaras de videovigilância em alguns locais que possam ter um efeito dissuador junto dos meliantes.

João Bernardo, do CDS, afiança que as fotografias “não enganam” e que é uma questão de “dignidade” a Covilhã apostar mais nesta matéria.

O PSD usou da ironia, agradecendo ao executivo por obras em que existem, ou existiram, problemas, como os abrigos dos autocarros, estradas municipais, passeios que impedem cidadãos com mobilidade reduzida de circularem, o parque da Goldra, “onde as famílias podem passar um pouco do seu tempo livre” ou a piscina coberta que “faltou durante mais de dois anos”. Um obrigado extensivo a 12 anos de governação socialista que “tornaram a cidade muito melhor”.

Hélio Fazendeiro, deputado do PS, e candidato à Câmara, com desportivismo agradeceu os elogios que, contudo, considerou exagerados. “Muitas coisas foram feitas” afirma, explicando que, por exemplo, o Parque Verde da Floresta, não é responsabilidade do município, mas sim do Instituto da Conservação, Natureza e Florestas (ICNF). O socialista concorda que é “necessário melhorar o espaço urbano e verde”, mas recorda que, por exemplo, nesse âmbito foi este executivo que criou alguns parques, como o das Artes, que melhorou e reabilitou parques infantis, um trabalho “a que é preciso dar continuidade”. “Há um conjunto de situações a que é preciso responder, mas não podemos esquecer o que já está feito” aconselha.

Mónica Ramôa, da CDU, exemplificou o trabalho feito noutras cidades do País, e até da Europa, nesta matéria, com soluções mais inovadoras, e disse que, ao se ver o estado de degradação de alguns espaços públicos, o que está em causa “não é a imagem da cidade, mas sim a sua habitabilidade”.

O presidente da Câmara da Covilhã, Vítor Pereira, anuiu algumas das críticas deixadas, reconhecendo algumas responsabilidades do município, mas lembrou que a manutenção de mobiliário urbano em espaço público é uma “matéria difícil” numa sociedade hoje marcada por cada vez menos civismo. “Há quem vandalize apenas por vandalizar” disse o autarca, exemplificando com o funicular de São João, onde segundo o autarca, alguém “possivelmente descontente” com o facto de este não funcionar resolveu destruir a porta de entrada. Sobre este mesmo equipamento, o autarca explicou que a sua paragem se deve à avaria de uma das placas elétricas do sistema que o faz funcionar, que tem que ser substituída, mas que “já não se encontra disponível no mercado”. “Os técnicos estão a trabalhar numa alteração do mecanismo” adiantou o autarca covilhanense. “É algo que nos ultrapassa, não se conseguem fazer milagres” disse.

No diz respeito ao Parque da Goldra, Vítor Pereira salientou que o espaço “está desativado”, mas que a intenção da Câmara é requalifica-lo na íntegra. “O projeto está aí e vai ser requalificado” afirma, embora já sem ele a liderar o executivo.

O presidente da Câmara deu como exemplos positivos a criação do Jardim das Artes, “que foi destes executivos” ou a requalificação de parques infantis nas freguesias, em trabalho conjunto com as juntas. “É visível. Foram tantos os espaços públicos requalificados”, garante, classificando de “injusta” a acusação de que não se fez trabalho neste domínio.

Fez-se “muito poucochinho”

Ainda no debate dos grupos municipais, o CDS, pela voz de Adolfo Mesquita Nunes, quis debater a questão da participação cívica e transparência na governação, apontando uma proposta que passa, entre outras coisas, pela transmissão online das reuniões de Câmara, a aplicação de datas fixas, anuais, para as assembleias municipais, a publicação de atas das reuniões do executivo, contratos públicos ou contas de todas as empresas públicas a que o município pertence, entre outras. Uma ferramenta de trabalho que garantirá “mais transparência a quem governar, seja lá quem for”.

Fernando Pinheiro, do “Covilhã tem força” acredita que este tipo de medidas pode “aproximar os cidadãos da governação pública” e, assim, até contribuir para combater a abstenção eleitoral: Vítor Reis Silva, da CDU, acusou a maioria socialista de utilizar os órgãos municipais para fazer “propaganda” e não promover a participação pública; Lino Torgal, do PSD, acredita que a transparência deve ser “uma prática e não uma formalidade” e que com ela, fica “menos espaço para a dúvida”; e Pedro Bernardo, do PS, disse que muito já foi feito nesse campo, com as pessoas a poderem discordar livremente das opções camarárias, “sem virem a sofrer consequências”, como acontecia anteriormente, frisa.

Durante o período antes da ordem do dia, a CDU, através de Vítor Reis Silva, voltou a reclamar que a assembleia reúna com os responsáveis da CIM Beiras e Serra da Estrela para aplicação de maiores descontos nos passes sociais, lembrando que no concelho há quem gaste dezenas de euros para circular entre freguesias, e no resto do país há municípios onde os mesmos passes já são gratuitos.

Carlos Martins, presidente da União de Freguesias de Covilhã/Canhoso, apontou críticas à atuação camarária em domínios como a mobilidade urbana, ou a captação de investimentos económicos para o concelho, catalogando Vítor Pereira como “o pior presidente de Câmara de sempre”.

Já Vanda Ferreira, do PSD, disse que após 12 anos de governação, o que PS deixa como obra “é muito poucochinho” e que se não fosse a UBI a “fazer crescer a cidade”, esta voltaria à designação de “cidade fantasma”.

Hélio Fazendeiro, do PS, elogiou o trabalho feito pela universidade, “que é o caminho da Covilhã”, mas disse que tem sido feito “lado a lado” com a Câmara, para “enfrentar os caminhos que se colocam”.

A habitação, as contas consolidadas do grupo municipal, a oitava revisão orçamental do município e um protocolo de colaboração com a ENERAREA para aquisição de energia elétrica de média tensão foram outros dos assuntos abordados, a que o NC voltará na próxima edição.

VER MAIS

EDIÇÕES IMPRESSAS

PONTOS
DE DISTRIBUIÇÃO

Copyright © 2025 Notícias da Covilhã