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Caria já tem médico, mas correios vão ficar a “meio gás”

Vila, que estava sem médico, passa a ter uma consulta por semana. Mas estação de correios, a partir de abril, só abre três horas e meia por dia. População critica sistemática perda de serviços e teme que mais alguns possam sair

“É melhor que nada”. É este o sentimento do presidente da Junta de Freguesia de Caria, Silvério Quelhas, quando acaba de saber que, a partir desta semana, a localidade vai ser servida, uma vez por semana, por um médico de clínica geral na extensão de saúde, que estava sem qualquer profissional de saúde há algum tempo. No passado sábado, 3, de manhã, a Junta marcou uma sessão de esclarecimento em frente à estação dos CTT, de modo a explicar à população como estava a situação da falta de médicos na vila, bem como a redução no horário dos correios, a partir de 1 de abril.

Meia hora antes da tribuna pública, Silvério Quelhas recebeu uma chamada que lhe assegurava que, a partir desta semana, Caria teria pelo menos uma vez por semana médico, ou no período da tarde, ou da manhã. “É uma ótima notícia. É uma situação transitória, mas é melhor que nada. Ainda temos pessoas que nos ajudam” frisa o autarca, elogiando o papel de António Santos Silva, do ACES Cova da Beira, em todo este processo, uma vez que com a criação da ULS, a gestão de médicos no território passará a ser sua responsabilidade. “É pouco, mas é o possível. Já não estamos sozinhos. É uma situação pontual, de transição, até a ULS conseguir mais médicos. Nós queremos cá um médico a tempo inteiro” garante o autarca.

Antes, o presidente da junta deixara fortes críticas à coordenadora do centro de saúde de Belmonte, Celina Pires, por “não cumprir” o que prometera à população. E por não marcar presença nesta tribuna pública, acusando-a de “indiferença e arrogância” face á falta de médicos na vila “há vários meses”. Elogiando os esforços da Câmara de Belmonte na tentativa de encontrar uma solução, que chegou a poder passar por uma parceria público/privada, Silvério Quelhas contava estar em contacto com o responsável da ULS Cova da Beira, João Casteleiro, na tentativa de se contratarem médicos para Caria. “Não podemos ficar sem cuidados de saúde. É triste e vergonhoso termos que estar sempre a lutar por aquilo a que temos direito” salienta o autarca.

Silvério Quelhas lembrava que, depois de há um ano atrás a população ter saído à rua para impedir o fecho do posto da GNR, que ficou a funcionar num horário mais reduzido, uma situação “ainda por resolver”, agora o povo tinha que se manifestar não só pela falta de médicos, mas também pelo facto dos CTT terem anunciado, a partir de 1 de abril, a redução do horário da estação de correios, para três horas e meia diárias. Os CTT funcionam num edifício deles, mas geridos há anos por funcionários da Junta, que chamou a si esta responsabilidade de modo a evitar o fecho. Agora, horário pode vir a ser reduzido para apenas um período do dia: de manhã, ou de tarde. “Estamos a pagar um preço demasiado elevado por querermos morar no sítio onde nascemos. Temos direito aos serviços básicos. Querem tirar-nos o pouco que ainda nos resta. Será que nos querem empurrar para as cidades, ou para a emigração” pergunta Silvério Quelhas, que anuncia que com esta medida, também a comparticipação à autarquia para assegurar o serviço será reduzida em 50 por cento. O argumento para a decisão: a baixa taxa de atendimento diário. “Esta estação serve pessoas de quatro concelhos: Belmonte, Covilhã, Fundão e Sabugal. Tem um movimento de cerca de 600 mil euros anuais. Se isto não chega, o que pretendem? Tratam-nos apenas como números. É uma morte lenta, anunciada” critica o autarca.

António Borrego, 75 anos, é natural e residente na vila. E mostra o seu desagrado pelo atual estado de coisas. “É uma vergonha. Caria está marginalizada. Uma tristeza. Não temos médico, agora os correios, qualquer dia até a caixa (de Crédito Agrícola) vai embora. Ficamos sem nada” afirma, apontando culpa ao governo. “Sou a favor de um boicote às eleições de 10 de março” frisa. “Esta vila, qualquer dia, parece uma quinta” lamenta.

Ao seu lado, José Coito Soares, 87 anos, lembra que ia à estação dos CTT pagar impostos, como o IMI, apenas “para dar movimento” à estrutura, já que tinha quem lhe tratasse de tudo via internet. “Mas há muitos idosos que não têm, que não sabem fazer” lembra.

Maria do Carmo, 54 anos, residente em Caria, também veio ao protesto, solidária. “Temos falta de tudo. Pouco a pouco, parecemos uma quinta” lamenta.

Hélder Figueira, 46 anos, doente oncológico, recorda que Caria está sem médico “há quase um ano” e que há quem necessite de cuidados diários, ou receitas. Recorda que, diretamente, a Câmara de Belmonte “não tem culpa”, mas que, indiretamente, tem responsabilidades. “Tem feito esforços, na questão do médico, mas descurado outras situações. Quem quer vir para um sítio onde as estradas estão num estado lastimável, onde há cortes constantes de eletricidade ou em que rebentam a toda a hora condutas, deixando as pessoas sem água?” pergunta. “É isto que é preciso perceber. O porquê dos CTT quererem ir embora, ou a GNR estar a meio tempo. Qualquer dia, até a única instituição bancária que cá está vai embora” vaticina.

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