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Carta de Pêro Vaz de Caminha traduzida em língua indígena

Documento, que faz relato da chegada da armada de Pedro Álvares Cabral ao Brasil, em 1500, passa a estar disponível em Patxorá, e, também, em inglês

Desde esta semana que é possível, para os povos indígenas Pataxós, no Brasil, lerem, na sua língua, a Carta de Pêro Vaz de Caminha que conta a chegada dos portugueses ao Brasil, em 1500, na armada liderada pelo belmontense Pedro Álvares Cabral. É que, três professores, do povo Pataxó, resolveram fazer a tradução do Português para a sua língua, o Patxorá, tendo o resultado final sido apresentado na passada quarta-feira, 9, em Belmonte, onde se comemorou, pela primeira vez, o Dia Internacional dos Povos Indígenas.

“Foi um trabalho que iniciamos em Porto Seguro, que durou em média, um mês. Uma tradução muito difícil, pois o português é complicado, mas em que tudo fizemos para que ficasse o mais fiel da original” garante Sileyne Pataxó, uma das autoras da obra. Segundo ela, o grande objetivo é “mostrar a resistência de um povo, da língua do nosso povo Pataxó. Já trabalhamos em tradução de textos há algum tempo, mas este é o primeiro texto oficial em que o fizemos, no sentido de fortalecermos ainda mais a questão da língua para o nosso povo” garante.

Segundo a docente, existem cerca de 52 aldeias Pataxós, entre o estado da Baía, Minas Gerais e Rio de Janeiro. “Onde moramos, na nossa aldeia, a maior, existem cerca de sete mil indígenas, uma área de preservação natural e cultural. A nossa maior questão é termos territórios que ainda não são região demarcada, não são reconhecidos, e esse é um grande desafio para nós, neste momento” assegura.

Em Belmonte está uma comitiva que integra três indígenas deste povo, que entregaram ao presidente da Câmara, António Dias Rocha, a Carta de Pêro Vaz de Caminha, datada de 1 de maio de 1500, traduzida. “Esta obra foi uma surpresa muito grande. É de um simbolismo muito grande esta tradução, e nós também já o fizemos na língua inglesa, para que chegue a mais gente” garante o autarca, que lembra que este município “tem esta sensibilidade, o carinho por vocês, que receberam bem o homem mais importante de Belmonte, Pedro Álvares Cabral”. Dias Rocha recorda que a relação umbilical entre a vila e o Brasil é de séculos, que a quer reforçar e lembra que hoje, face ao protocolo assinado com a empresa Wit, há cerca de 20 técnicos brasileiros, e respetivas famílias, a trabalhar e morar em Belmonte. “Estão cá bem, felizes, e isso é que importa” frisa.

Joaquim Costa, presidente da Empresa Municipal, vincou que esta foi “a primeira vez” que, quer em Belmonte, Portugal ou Europa, se assinalou o Dia Internacional dos Povos Indígenas, “um facto histórico”, numa altura em que a UNESCO está a realizar um trabalho “para que as línguas indígenas se mantenham, uma vez que todos os dias estão a desaparecer”.

A Carta, assinada por Pêro Vaz de Caminha, escrivão da feitoria de Calecut, enviado por D. Manuel na armada de Pedro Álvares Cabral, está guardada na Torre do Tombo e é o primeiro testemunho da existência de um mundo até então desconhecido.  As pessoas referidas na carta são, em primeiro lugar Pedro Álvares Cabral, o responsável pela armada, e outros, mencionados ou não, que faziam parte da expedição, eram capitães experientes, pertencentes a grandes famílias portuguesas, bem como grandes comerciantes florentinos.

O documento faz um relato muito circunstanciado dos costumes dos habitantes da terra, o seu comportamento pacífico, suas casas, alimentação, vestuário, vários utensílios como arcos, setas, machados, aves, a cor da terra, os densos arvoredos ou a inexistência de animais domésticos, entre outros.

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