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Casamento em tempos de pandemia

Há um ano a prepararem o casamento, a decidirem todos os pormenores, há noivos neste momento a serem confrontados com a evidência de que o aguardado dia não vai ser como esperavam. Há quem tenha adiado, quem alimente a esperança de que exista um rápido retrocesso na evolução da pandemia da covid-19 e quem tenha decidido casar sem convidados, deixando a festa para quando for possível.

João Neves e Marisa Ascensão namoram há dez anos e há um que iniciaram os preparativos para o enlace previsto para 9 de Maio. Escolheram cuidadosamente a quinta para o copo-d´água, marcaram a lua-de-mel, têm as alianças já gravadas, tal como tudo impresso com essa data, que ainda estão a ponderar se alteram.

Marisa, 28 anos, nutricionista, da Boidobra, queria casar “no mês de Maria” e foi por esse motivo que esta altura do ano foi escolhida. Em Fevereiro, quando Itália começou a ser afectada pelo novo coronavírus, João, engenheiro informático de 29 anos, natural do Tortosendo, vaticinou a incerteza que estão a viver, enquanto a noiva achou que a situação não iria ser tão grave, a ponto de ter sido decretado o estado de emergência no País.

Nas últimas semanas Marisa tem alimentado “a fé de que isto se pudesse resolver”. Um cenário em que tem cada vez maior dificuldade em acreditar. A cerca de um mês do casamento, vêem-se a viver uma ansiedade muito diferente da que imaginavam, a que se juntam os nervos por toda a incerteza.

Se para João essa possibilidade não estaria rejeitada à partida, para Marisa, casar apenas com os pais e padrinhos presentes, ou pouco mais do que isso, não é opção. “É um momento de partilha”, justifica. O enlace de um familiar, em Abril, já foi adiado para Outubro. O casal não vê grandes alternativas a procurar outra data, mas vai aguardar até à Páscoa para tomar a difícil decisão.

João e Marisa namoram há dez anos e estão na iminência de ver o casamento adiado para quando a quinta onde marcaram o copo d`água tiver disponibilidade.

“A pergunta que mais nos fazem é porque não adiamos”

É no dia 2 de Maio que Leonor Gaspar e Miguel Chiquita vão casar. Decidiram em Junho do ano passado e, apesar das hesitações e de verem goradas as expectativas do casamento idealizado, decidiram manter a data porque o mais importante é “começar uma vida em conjunto”. A festa fica para depois. Se possível, um Julho. Senão, quando houver condições para reunir família e amigos.

“Para nós, o principal é o casamento e ficarmos unidos, com a bênção de Deus. A família não estará reunida, não teremos a festa para partilharmos este momento com todos, mas, numa altura destas, teremos algo de bom na nossa vida”, frisa a investigadora bolseira, covilhanense de 27 anos.

Miguel Chiquita, de Vila do Carvalho, 29 anos, concorda com a noiva, já que ambos gostavam de casar no “mês de Maria”. “Ele sempre disse que podíamos casar já hoje e íamos só os dois”, graceja Leonor, que começou a namorar com o funcionário de uma unidade de polimentos há um ano e meio e, passados quatro meses, decidiram casar, porque lhes pareceu de imediato terem encontrado “a pessoa ideal”.

Foi há um mês que começaram a falar sobre a necessidade de repensar a data do casamento, quando perceberam que o vírus alastrava e ia criar problemas também em Portugal. Foram adiando a decisão, até comunicarem aos convidados que o casamento se ia realizar e a festa seria adiada para data a anunciar.

“Foi complicado no início ver tudo ir por água abaixo, mas nós já temos tantas incertezas na nossa vida. Queríamos iniciar a nossa vida os dois e agarrámo-nos a isso. Sabe-se lá quando é que íamos poder casar. Não queríamos adiar sabe-se lá para quando”, vinca Leonor Gaspar.

Se na cabeça de Leonor e Miguel o assunto está processado, para a família não tem sido fácil aceitar. “Os pais não percebem o casamento sem festa, ninguém percebe muito bem o nosso lado, até é compreensível, e a pergunta que mais nos fazem é porque não adiamos”, conta a noiva.

Ansiosos e expectantes

Também os pais de João e Marisa se têm mostrado preocupados com todos estes imponderáveis. O investimento significativo já feito não é de somenos. Para tudo foi dado um sinal, embora o dinheiro não esteja perdido, basta marcar uma nova data, o que não se afigura tarefa fácil. A quinta escolhida para a festa, muito concorrida, é o mais complicado. Para Setembro não há dia disponível, para o ano todas as datas pretendidas já estão ocupadas e aguardam para saber se será possível reagendar para Outubro, embora saibam, à partida, que não vão poder casar a um sábado, como estava inicialmente previsto.

A verba para a lua-de-mel também não está perdida, embora João Neves calcule que, alterando a época do ano, o valor possa mudar. Para já, o casal vai continuar ansioso e expectante, enquanto se encontra em teletrabalho, como grande parte da população. O noivo prevê que a 9 de Maio as pessoas já estejam no seu local de trabalho, mas prevê que andem com medo e duvida que sejam possíveis, na altura, eventos como casamentos. “Só nos resta esperar”, diz Marisa.

Miguel e Leonor têm uma certeza: “Vai ser um casamento diferente do que alguma vez imaginámos, sem a família toda reunida”. A lua-de-mel, já paga, a Itália, é agora uma miragem. Estão a tentar reaver o que pagaram. Os dias a seguir ao casamento estão a ser planeados. “A ideia é passear aqui mais por perto, por sítios mais isolados”, adianta Leonor Gaspar, desiludida com os planos feitos, que ruíram como um baralho de cartas, mas satisfeita com a perspectiva do que está prestes a começar a edificar. “Quando isto passar ainda teremos mais motivos para celebrar”, acrescenta, optimista.

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