À adversidade das vidas urdidas entre as longas jornadas nas fábricas, o caminho a pé para casa e horizontes limitados pelas circunstâncias, a resposta foi uma solidariedade gregária. Para a falta de oportunidades que se apresentavam quase sempre como uma inevitabilidade à nascença, o Grupo Instrução e Recreio (GIR) do Rodrigo foi remendo. Numa cidade com tão acentuadas clivagens sociais, a colectividade, de génese operária, tornou-se ao longo dos cem anos de existência uma ponte entre mundos, com actividades tão diversificadas e eventos tão concorridos que atraíam também os industriais.
O GIR do Rodrigo nasceu na taberna do seu fundador, ao lado das actuais instalações, da vontade de contrariar o analfabetismo da maioria, que ainda criança começava a trabalhar nos lanifícios, sem poder ter a veleidade de aprender as letras e os números. José António Lopes e mais cinco amigos fizeram da ideia acção. Entenderam que a massa humana de braços cansados e pouco tempo para lazer não podia ser vista apenas como mão-de-obra para as fábricas. Era possível dar-lhes asas, ajudar a moldar vidas.
Em 2 de Abril de 1921 o GIR foi fundado, com o objectivo principal de instruir os seus sócios. As aulas começaram por ser ministradas à noite, a quem antes nunca pôde ir à escola, pelos fundadores, ainda antes de serem contratadas professoras para o efeito. Mais tarde passaram a existir turnos também diurnos, para os filhos dos sócios.
Inaugurada oficialmente em 1928, a escola tornou-se dois anos depois oficial, já com uma professora paga pelo Governo e não pela agremiação. Funcionou nestes moldes até abrir a escola estatal do bairro e, até lá, desempenhou uma importante luta pela alfabetização.
“O GIR substituiu-se ao Estado em muita coisa”
O actual presidente, Cláudio Gonçalves, 60 anos, pega no estandarte verde para mostrar que as origens nunca foram esquecidas. A figura da mulher desenhada, sentada em cima de um novelo de lã, segura numa mão um livro, “a instrução”, e na outra ergue uma chama, “a intenção de iluminar, para aprender”, explica o dirigente.
“O GIR substituiu-se ao Estado em muita coisa, foi inovador em muita coisa e é importante na vida da cidade. As pessoas podem não saber o nome da rua, mas toda a gente sabe onde é o Grupo do Rodrigo, porque o próprio edifício é imponente”, frisa João José Silva, 70 anos, 55 dos quais vividos na agremiação junto à qual cresceu, presidente durante 20 anos.
(Reportagem completa na edição papel)