Foram tantas as lendas, as interpretações, as teorias e as conclusões sobre um monumento enigmático que ainda não se sabe bem o que é (embora já com algumas certezas), que escrever sobre a Torre de Centum Cellas, no Colmeal da Torre, concelho de Belmonte, era um desafio tão grande quanto escrever sobre “a baleia branca de Moby Dick”. Ou seja, era quase um “terror” avançar para a descrição de um lugar que, ainda hoje, não se sabe a 100% o que foi, ou é. É esta a opinião de Gonçalo Rosa, diretor da National Geographic Portugal, revista que no mês de outubro dedicou 12 páginas a este monumento nacional, com textos do último arqueólogo a efetuar escavações no local, Pedro Sobral, em 2024.
A publicação foi apresentada na passada quarta-feira, 15, no Centro Interpretativo de Centum Cellas, numa cerimónia que contou com o ainda presidente da Câmara, António Dias Rocha, mas também com o já eleito sucessor, António Luís Beites.
Dias Rocha recordou que o monumento, único em quase toda a Europa (existe uma torre parecida na Turquia) é muito querido da população local, e que a divulgação da mesma, através desta revista, “poderá trazer riqueza ao concelho pelas pessoas que poderá atrair para nos visitarem”. Rocha lembrou o peso do selo National Geographic em termos nacionais. “A revista está esgotadíssima, na Covilhã e Guarda. Pedi 15 exemplares e não consegui” assegura. O autarca pediu ao seu sucessor que possa dar continuidade à escavação de terrenos circundantes, para se conseguir saber ainda mais sobre o local. “Ele já me demonstrou interesse nisso”, garantiu.
Gonçalo Rosa, diretor da publicação, lembrou que em 25 anos de liderança da mesma, Centum Cellas sempre foi um tema que esteve em cima da mesa, mas as dúvidas sobre o local faziam com que se temesse escrever sobre ele. “Hoje, após vários trabalhos, as águas estão mais claras”, justifica, para o trabalho feito neste mês. Rosa acredita que, “às vezes, é preciso ser gente de fora a mostrar o interesse de muito património”, garantindo que em Portugal “não há nada parecido a Centum Cellas”. A publicação surge com o intuito de “valorizar o que o município aqui fez”, de umas ruínas únicas, já que “poucas outras alimentaram tantas lendas como esta”, e agora o objetivo é levá-las também para a revista espanhola. Gonçalo Rosa deixou ainda o apelo ao próximo executivo para que “não se perca a vontade política de apostar na cultura”.
Pedro Sobral, arqueológo que fez as últimas escavações naquele lugar, e autor do texto da revista, salienta que, segundo o mesmo, se perde a teoria de que Centum Cellas teria sido uma vila, mas antes um conjunto de construções das quais sobrou apenas o núcleo central, a Torre. “É por isso que hoje, à entrada, se vê Complexo Monumental, porque com base nos dados e suporte gráfico que temos, era mais que uma Torre, com um conjunto de divisões em seu redor”. O investigador afirma que este é o corolário de um trabalho de muitos anos que “agora não pode parar” e que agora, é preciso promover este lugar junto dos diversos operadores turísticos. “É preciso divulgar o que há, integrar com a restante oferta, como a Quinta da Fórnea, para ser mais-valia” aponta, pedindo ao novo autarca, António Luís Beites, que promova a escavação de um pequeno pedaço, ao lado, “que ainda é preciso explorar” e interceda junto do Museu Francisco Tavares Proença, em Castelo Branco, para que este ceda duas peças que saíram de Centum Cellas, que estarão “encaixotadas”, de modo a serem exibidas em lugar próprio no Centro Interpretativo.