O Complexo Monumental de Centum Cellas, no Colmeal da Torre, concelho de Belmonte, vai passar a integrar a rede museológica gerida pela Empresa Municipal de Belmonte (EMPDS) e terá, em breve, entrada paga.
Depois de, em abril de 2024, terem sido inauguradas as obras de restauro da emblemática torre, e de, pouco depois, ter aberto portas o Centro Interpretativo ali criado, o arranjo do espaço exterior também já foi realizado e no portão lateral, de acesso pedonal, já foi instalado um torniquete que fará a contagem de visitantes ao local, bem como controlará as entradas pagas no monumento.
O tema foi debatido na última reunião pública do executivo, mas adiado para uma posterior reunião, depois de várias opiniões deixadas pelos vereadores, com o presidente da Câmara, António Dias Rocha, a remeter decisões para depois de um diálogo a ter com o presidente da EMPDS, Joaquim Costa.
O vereador da CDU, Carlos Afonso, mostrou-se contra o pagamento de entrada por parte de crianças com seis anos, quer no monumento, quer nos museus em geral, apontando para os 12 anos para se começar a cobrar bilhete. E pediu uma redução mais significativa nos descontos a idosos sobre o bilhete geral (que permite visita aos cinco museus da vila, castelo e três espaços em Caria), que custa 12 euros, e prevê desconto de um euro. “Vêm muitos milhares de pessoas a Belmonte que não entram nos museus” lamentou o vereador. Já o vereador do PSD, José Mariano, pediu que crianças só paguem a partir dos 10 anos.
Dias Rocha recordou que, quando visitam outros concelhos, os idosos belmontenses também têm que pagar. “Os que nos visitam também têm que pagar. Nós, até temos, em média, valores de bilhética abaixo da média nacional” frisa.
Já o vice-presidente da autarquia, Paulo Borralhinho, recorda que crianças a partir dos seis anos já pagam noutros espaços culturais do concelho, e que os residentes, sejam crianças ou idosos, não despendem valor algum quando entram nos museus ou monumentos. Além disso, recorda que estão previstos descontos, como a entrada gratuita a crianças quando os pais adquirem bilhete geral, ou 50 por cento para visitas escolares mediante marcação prévia. “Quem vem de fora tem que pagar”, admitindo, contudo, que é preciso intervir nos museus. “Se me disserem que temos que investir em tornar os museus mais atrativos, aí já concordo” afirma.
Em Belmonte, o bilhete geral para visita ao Ecomuseu do Zêzere, Museu do Azeite, Museu Judaico, Museu À Descoberta do Novo Mundo, Igreja de Santiago e Panteão dos Cabrais, Castelo, Casa Etnográfica, Casa da Roda, Casa da Torre (Caria) custa 12 euros. Excluindo estruturas de Caria, custa 10, e excluindo o castelo, 8 euros, para maiores de 18 anos. A partir dos seis anos, paga-se 10, 8 e 7 euros respetivamente, preço também aplicado a estudantes e reformados. A visita às ruínas romanas da Fórnea continua gratuita. “Vamos avançar também com o centro Interpretativo da Quinta da Fórnea. Nós temos que criar uma rede, e atrativos, que façam com que conseguimos que, quem vem a Belmonte visitar-nos, possa cá ficar mais tempo” frisava em abril do ano passado, ao NC, António Dias Rocha.
Recorde-se que a autarquia investiu cerca de 800 mil euros (com apoio de 85 por cento de fundos comunitários) na requalificação da Torre de Centum Cellas e criação do respetivo Centro Interpretativo. “Apostámos na consolidação da Torre que, espero, dure mais dois mil anos. E também criámos o Centro Interpretativo, em que deixamos ao cuidado de cada um fazer a sua interpretação desta torre enigmática, deixando ao visitante informação para que o possa fazer” vincava o autarca. Dias Rocha dizia também que a requalificação dos museus “é um grande esforço que temos que fazer.” Segundo o autarca, “os museus precisam de uma volta face ao número de visitantes que já tiveram”.
Primeira edição dos Dias Romanos
Entretanto, a Câmara de Belmonte e a EMPDS promovem entre hoje, quinta-feira, 5, e terça-feira, 10, a primeira edição dos “Dias Romanos de Centum Cellas”, um evento que “convida a viajar até à época do Império Romano, num cenário dominado pela grandiosidade e enigma de Centum Cellas.”
Segundo a autarquia, trata-se de uma recriação histórica que, embora de pequena escala, promete uma experiência “envolvente e educativa no concelho” onde as raízes da presença romana “ainda se fazem sentir de forma marcante.”
Haverá, ao longo de cinco dias, um conjunto de atividades como um mercado de inspiração romana, oficinas temáticas (como teares romanos, falcoaria e escrita da época), teatro sénior e infantil, contos encenados, música ao vivo e demonstrações de combates e lutas à moda antiga.
A organização destaca momentos como a peça “A Grande Tragédia Fiscal”, esta quinta-feira, 5, às 20 e 30, protagonizada por elementos da Academia Sénior, e que pretende recriar como seria a vida das pessoas que moraram na Quinta da Fórnea. Destaque também para espetáculo infantil “Ulisses e o Cavalo de Troia”, no domingo, 8, às 18 horas, e para o concerto com encenação “Nos Montes de Viriato”, na sexta-feira, 6, às 21 horas, pela Escola de Música do Centro de Cultura Pedro Álvares Cabral.
No último dia da iniciativa, terça-feira, 10, Dia de Portugal, pelas 17:30, haverá uma conversa final com historiadores, especialistas, e alguns dos investigadores que trabalharam no local, quer em escavações arqueológicas, quer nas obras de restauro, que se debruçarão sobre os muitos enigmas ainda por resolver acerca da origem e função da torre. Pedro Carvalho, Pedro Sobral, Ricardo Silveira e Bruno Rigueiro serão oradores no painel “Centum Cellas, uma história com dois mil anos”, uma “abordagem que ajuda a reforçar a dimensão educativa do evento, desafiando o público a refletir sobre o passado e a sua ligação ao presente” frisa a organização. Que adianta ainda que esta primeira edição marca o início de um ciclo anual que “poderá crescer em notoriedade e participação.”