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Centum Cellas de “cara lavada”

Consolidação do monumento nacional está quase pronta. Um trabalho minucioso, que se tornou urgente após, no país, se terem sentido alguns sismos. Material usado é à base de cal, e não de cimento, como à primeira vista pode parecer

Ainda não se saberá muito bem o que foi a Torre de Centum Cellas, no Colmeal da Torre, concelho de Belmonte. O que se sabia, há já alguns anos, é que o facto de nunca ter sido intervencionada poderia levar ao deslizamento de algumas pedras e assim, a própria torre, se ir destruindo ao longo dos anos, pelo que a sua intervenção era considerada urgente por parte da Câmara. Passados cerca de seis meses desde que as obras de restauro e reabilitação do monumento nacional se iniciaram, a Torre apresenta-se já de “cara lavada”, mais limpa, mais segura, quase a caminho da consolidação total.

“Os trabalhos envolveram quatro fase distintas. A limpeza, a remoção de lixo, a consolidação de muros e juntas, e a reconstituição de zonas em risco de ruínas, muito pontuais” frisa Ricardo Silveira, do Instituto de Conservação e Salvaguarda do Património (ICSP), entidade privada que tem como objetivo a conservação, restauro e salvaguarda do património artístico em Portugal.

Segundo o coordenador geral desta empreitada, tudo o que tem ali sido feito foi definido por uma equipa projetista sob a alçada da Direção Geral de Cultura, e a equipa que tem estado neste meio ano no Colmeal segue diretrizes bem definidas, até porque se trata de um monumento nacional. “Nem toda a gente compreende uma intervenção desta envergadura, mas a nossa equipa, que, em média, é constituída diariamente por oito a dez pessoas, faz o trabalho de forma correta” garante, quando, por exemplo, é confrontado por populares sobre a argamassa usada no reforço de muros. “Há quem pense que é cimento, mas não é. Nem podia ser. É cal, que já era usada pelos nossos antepassados, romanos” assegura.

Com técnicos que já trabalharam em locais como Versalhes ou Louvre, a empresa (apenas responsável pela parte do restauro, e não pela construção do Centro Interpretativo, ali ao lado) teve logo que acudir, no que diz respeito à muralha, a algumas pedras, partidas, que ameaçavam colapsar. “Tínhamos três estruturas partidas, que punham em risco a própria torre. Ela, por si só, não caía, mas a consolidação ganhou maior urgência nos últimos anos face ao facto de se fazerem sentir alguns sismos, até aqui bem próximo, na região, na zona da Pampilhosa. Isso acelerou a necessidade. Um tremor desses poderia levar a torre a colapsar” garante Ricardo Silveira.

Recentemente, o presidente da autarquia, António Dias Rocha, deixou o desejo de que, após as obras, a torre se possa manter por “mais dois mil anos”, algo que o técnico da ISCP acredita ser possível. “Pode lá estar mais dois, três mil anos, desde que haja intervenções pontuais” frisa, apontando este mês de janeiro para que tudo fique pronto.

“Usamos cal, e não cimento”

No exterior, os muros têm sido consolidados, sobretudo com o reforço das juntas. “Usamos cal, e não cimento, que não é reversível. A cal, é. Depois, há diferentes tipos, dependendo da necessidade. Em pasta, natural ou hidratada. Tem menos resistência que cimento, mas é compatível com o que lá existia. Muitas vezes o restauro é feito numa época e depois, numa outra, pode-se sempre achar que foi mal feito. Mas temos muita atenção aos trabalhos, serem bem feitos, respeitando os tempos de secagem, por exemplo, e cumprindo ao mesmo tempo, prazos. O principal inimigo, normalmente, é a chuva, mas nisso este ano tivemos sorte” afirma Ricardo Silveira.

A empreitada de recuperação e reabilitação da Torre de Centum Cellas, no Colmeal da Torre, e da construção do respectivo Centro Interpretativo, iniciada em junho de 2023, é uma obra com custo superior a 700 mil euros, que foi adjudicada à empresa NOW XXI, e que inicialmente se previa concluída no final do ano que passou. Se no que diz respeito à Torre e respetivas muralhas, a maior parte do trabalho está feito, no que diz respeito à construção da estrutura que explicará o monumento, há ainda algum atraso. Mas Dias Rocha, autarca belmontense, já apontou o Dia do Concelho, 26 de abril, como data previsível de inauguração do Centro Interpretativo. A caminho desta estrutura estará em breve espólio dali retirado na década de 90, que estaca à guarda da Direção Regional de Cultura do Centro, mas que a Câmara já trouxe, para “estudo e tratamento”, para a Casa da Torre, em Caria.

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