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Centum Cellas recuperada “sem obras de construção civil”

Técnicos garantem que não se usou cimento na consolidação de estruturas. E asseguram que autenticidade da Torre está salvaguardada. Centro Interpretativo inaugurado, mas sem data para abrir

“Nós, aqui, não trabalhámos como na construção civil. Temos leis para cumprir. Este é um monumento nacional e foi uma obra muito peculiar. Aquela que fiz que teve mais fiscalização”. Foi esta a garantia deixada por Ricardo Silveira, do Instituto de Conservação e Salvaguarda do Património (ICSP), na passada sexta-feira, 26, durante a inauguração das obras de restauro e conservação da Torre de Centum Cellas, no Colmeal da Torre (concelho de Belmonte), onde a autarquia investiu cerca de 800 mil euros (com apoio de 85 por cento de fundos comunitários), criando também um Centro Interpretativo.

Perante algum povo que, apesar da chuva, marcou presença no dia de festa do “seu” monumento, Ricardo Silveira quis desfazer dúvidas, sobretudo aquelas que apontam para utilização de cimento na consolidação de estruturas. “O que usamos, de acordo com o planeamento, foi carbonato de cálcio nos muros. Todas as fissuras estruturais foram reforçadas com fibras de carbono, que não se veem” explicou. Quanto a algumas aberturas laterais, que foram tapadas, com pedra., “foi assim porque não existiam, originalmente. As pedras foram roubadas, e agora repostas, reforçando a solidez da Torre, que mantém a sua autenticidade” garante. Ricardo Silveira esclareceu ainda que as pedras e juntas, agora de cor mais clara, com o tempo irão escurecer, ficando iguais ao que já existia.

Dias Rocha, presidente da Câmara de Belmonte, estabeleceu mesmo uma comparação com outro monumento, o castelo, onde na década de 90 foi feito um anfiteatro ao ar livre em que a cor da pedra ali colocada também chocou. “Aconteceu o mesmo no castelo, esse contraste, e hoje já ninguém fala disso. Na altura, foi polémico. Mas fizemos um esforço muito grande para recuperar a Torre, algo que o povo do Colmeal queria” frisa o autarca. Que ao NC garante que “apostámos na consolidação da Torre que, espero, dure mais dois mil anos. E também criámos o Centro Interpretativo, em que deixamos ao cuidado de cada um fazer a sua interpretação desta torre enigmática, deixando ao visitante informação para que o possa fazer” vinca o autarca. Dias Rocha adianta ao NC que, numa primeira fase, as visitas serão gratuitas.

Para já, o Centro Interpretativo apenas tem um televisor, onde passa um filme que explica as diversas teorias sobre o enigmático monumento. Não tem mobiliário e ainda está sem data de abertura. “O filme terá versões em inglês e francês. Este é um espaço digno, e que será dedicado aos turistas” afirma Dias Rocha.

Pedro Sobral, arqueólogo, que liderou as escavações ali feitas no verão, ficou satisfeito por se dar “dignidade a um dos três ou quatro mais imponentes monumentos da época romana”, numa obra “muito bem feita”, e que no futuro também terá uma aplicação móvel com informação sobre o monumento. “Enquanto aqui realizei trabalhos, posso garantir que passaram por aqui centenas de turistas” afirma.

A seguir… a Fórnea

Ao NC, o presidente da Câmara de Belmonte adiantou que depois da valorização de Centum Cellas, a autarquia quer fazer o mesmo nas ruínas romandas da Quinta da Fórnea.  “Vamos avançar também com o centro Interpretativo da Quinta da Fórnea. Nós temos que criar uma rede, e atrativos, que façam com que conseguimos que, quem vem a Belmonte visitar-nos, possa cá ficar mais tempo” frisa o autarca belmontense, prestes a entrar no último ano de mandato (não se pode recandidatar ao cargo, face à lei).

Rocha acredita que Belmonte “tem potencial” e “um futuro bom, com melhores condições de vida para as pessoas”. E, sendo ainda o turismo a principal aposta do município, apela a investidores que apostem na hotelaria e restauração, face ao número de visitantes que, após anos marcados pela pandemia, já está a crescer de novo. “Espero que os empresários acreditem em nós” deseja, anunciando que uma das apostas do próximo ano é a requalificação e modernização da rede de museus da vila. “Tenho mais um ano de mandato e gostaria de fazer mais algumas coisas. Até ao momento, fez-se o possível. A requalificação dos museus é um grande esforço que temos que fazer. E também queremos investir na segunda vil do concelho, Caria” garante.

Segundo Dias Rocha, “os museus precisam de uma volta face ao número de visitantes que já tiveram”. Recentemente, o autarca tinha anunciado um investimento global de 850 mil euros para remodelar o Museu dos Descobrimentos, Ecomuseu do Zêzere, Castelo e Museu do Azeite, com projetos a apresentar a fundos comunitários. O objetivo é dar uma “imagem diferente” no que toca a equipamentos, que quer mais modernos, apostando também em novos conteúdos.

No primeiro trimestre deste ano, os sete museus de Belmonte registaram a visita de 21 mil pessoas, a maioria das estrangeiras provenientes do Brasil, Estados Unidos da América e Espanha, com uma quebra de turistas israelitas. Em 2023 os museus da vila registaram um aumento de 28% no número de visitantes, face ao ano anterior, com 109 mil entradas, apesar de vários cancelamentos a partir de outubro devido à guerra no Médio Oriente. A expectativa é que se atinjam os números pré-pandemia, em 2019, ano em que 139 mil turistas entraram nos museus.

O presidente da Câmara de Belmonte adiantou ainda ao NC, durante a inauguração de uma exposição patente no castelo, com espólio da prefeitura de Porto Seguro, no Brasil, que este município irmão, geminado com Belmonte, vai ter uma rua com o seu nome na vila.  Segundo os responsáveis brasileiros que, por estes dias, participaram nas festas do concelho, no Brasil existem 209 ruas com o nome de Pedro Álvares Cabral, navegador belmontense que descobriu aquele país.  Patente também no castelo, além desta mostra, até 2 de junho, uma exposição de pintura intitulada “Cores de Abril”, com obras de sete artistas locais.

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