Cinco meses de passe ferroviário verde

Vasco Jesus

Estudante da UBI

No dia 21 de outubro do passado ano entrou em vigor o Passe Ferroviário Verde. Este veio substituir o Passe Ferroviário Nacional, que tinha um custo de 50 euros, e era apenas válido para comboios regionais. Com esta mudança, passou a ser possível andar em qualquer comboio Regional e Intercidades (em 2ª classe) no país por 20€/mês. Este preço faz com que 30 dias de viagens fiquem mais baratos do que, por exemplo, uma simples viagem ida e volta Covilhã-Lisboa-Covilhã. Ora, isto é obviamente desajustado, uma vez que um passe de transportes, na sua essência, deve ser compensador para o utilizador recorrente e não para o utilizador ocasional.

Aquando do anúncio da medida levantaram-se várias questões sobre a sustentabilidade da mesma, uma vez que, para a CP (já de si com uma frota de material circulante cronicamente deficiente), isto significaria um aumento enorme da procura, sem grandes possibilidades para o aumento da oferta prestada pela empresa.  Volvidos 5 meses as conclusões são claras. O número de utilizadores dos comboios aumentou de forma brutal, o que só por si, seria uma boa notícia. No entanto com a mesma oferta pré Passe Ferroviário Verde, o que se assiste a bordo dos comboios é o caos. Em grande parte dos serviços abrangidos pelo passe, os comboios Regionais circulam sobrelotados, uma vez que não é necessário reservar lugar. No caso dos serviços Intercidades, os bilhetes esgotam poucas horas depois de estarem disponíveis para reserva com o passe (visto que, só é possível reservar, utilizando o passe, 24 horas antes do horário de partida), fazendo a experiência de comprar um bilhete de comboio, assemelhar-se com a experiência de comprar um bilhete para um dos concertos dos Coldplay.

Com a chegada de novos comboios Regionais a ser sucessivamente atrasada, por lentos processos em tribunal e sem qualquer plano à vista para a comprar de novo material circulante Intercidades, os tempos que se avizinham para os utilizadores habituais destes serviços não auguram nenhuma melhoria, antes pelo contrário, uma vez que a adesão ao Passe Ferroviário Verde continua a aumentar desenfreadamente.

Como se resolve tudo isto? É simples, uma vez que não existe a possibilidade de aumentar a oferta, pelas razões mencionadas acima, é necessário que se diminua a subsidiação da procura, ou seja, que se regresse ao preço anterior de 50 euros. A esse preço, o passe continuaria a ser uma grande ajuda para aqueles que efetivamente utilizam o comboio regularmente. Já em relação aos viajantes ocasionais, passava novamente a ser mais compensatório, a compra de bilhetes para viagens individuais, com antecedência, o que também permite à operadora gerir melhor a alocação de material circulante. No entanto, não havendo sequer qualquer demonstração de preocupação do atual governo, ou de qualquer um dos partidos a eleições no próximo dia 18 de maio, infelizmente é previsível que este problema continue a levar cada vez mais pessoas a pensarem duas vezes antes de escolherem o comboio, optando em vez disso pelo carro.

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