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Com ou sem neve, Páscoa vai trazer muita gente à Serra

Têm sido milhares os turistas a subirem ao Maciço Central nos últimos dias. A maioria garante que, se não fosse a neve, não vinha à Serra. Na Páscoa, espera-se muita gente, embora não haja garantias de se manter o manto branco. Há unidades hoteleiras que estimam ocupação de 80 por cento

A pergunta faz-se em tudo quanto é plataforma digital onde surjam fotos da Serra da Estrela com neve: irá ela aguentar mais uma semana, ou seja, até ao fim-de-semana de Páscoa? Segundo muitos especialistas na matéria, face ao aumento de temperaturas, não. Vítor Baía, instrutor de parapente na Guarda, e que há anos atualiza um site sobre previsões meteorológicas na Serra, garante que esta semana, com temperaturas altas, neve vai derreter, mantendo-se apenas em locais “mais sombrios”, mas prevê que, na semana da Páscoa, possa voltar a nevar. “Prevê-se frio e queda de neve na semana da Páscoa. Ainda falta muito tempo e as previsões podem mudar, mas têm sido previsões bem consistentes que normalmente acabam por se confirmar” afiança.

Certo é que, se durante esta última semana foram milhares os que subiram ao ponto mais alto de Portugal Continental para desfrutarem da neve, há muitos outros que, esteja ela presente ou não, já reservaram alojamento para o último fim-de-semana de março. Segundo o NC apurou, em toda a região, as taxas de ocupação hoteleira poderão ser superiores às de 2023, em que nesta altura, as taxas oscilaram entre os 60 e 80 por cento, mesmo sem neve. Este ano, com os flocos que caíram, e com o maior nevão dos últimos anos, pode vir mais gente.

Ao NC, Tatiana Tavares, responsável do departamento de comunicação e sustentabilidade do Grupo Natura IMB Hotels, que detém cinco unidades hoteleiras na beira (Puralã, H2hotel, Versatile, Lusitânia e Sport Hotel), garante que, para já, as perspetivas para a Páscoa “podem ser positivas, uma vez que existe um aumento na procura por parte de turistas que desejam desfrutar das belezas naturais da região, praticar desportos de inverno ou simplesmente relaxar e aproveitar o feriado.” Estimando-se que “a procura para a Páscoa 2024 na Serra da Estrela possa ser maior do que em 2023”. Tatiana Tavares salienta que as cinco unidades do grupo, neste momento, têm já garantidas para esse período “elevadas taxas de ocupação” e que estão “com a disponibilidade praticamente preenchida para o feriado prolongado.” Segundo esta responsável, a taxa média de ocupação para a Páscoa “pode variar bastante dependendo da aproximação ao feriado prolongado. A taxa de ocupação costuma ser alta, podendo chegar a 80% ou mais durante a semana da Páscoa, onde a estada média é de duas noites”.

Do grupo Luna, o diretor geral, Mário Oliveira, revela que, no que toca ao fim-de-semana de Páscoa, no Hotel Serra da Estrela, a taxa de ocupação, a mais de uma semana da data, é já de 91%, enquanto que os Chalés de Montanha já têm reservas na ordem dos 75 %.

A verdade é que desde que na passada quarta-feira, 13, as estradas reabriram na totalidade na Serra da Estrela, tem sido uma autêntica romaria até lá acima, que se acentuou no passado fim-de-semana, uma vez que o tempo esteve de feição. Embora no anterior (de eleições legislativas), mesmo sem ter todas as vias abertas, muitos quiseram ir à neve, tornando por vezes caótico o trânsito. Houve gente de todo o lado, de norte a sul do país. Que não quis perder a oportunidade de vir à neve. Que, quer queira-se, quer não, e mesmo que se tente vender o turismo de natureza durante todo o ano, é o “prato principal” que os forasteiros procuram. “Eu, na serra, o que gosto mesmo mais é da neve, embora aproveite sempre para comprar um queijito ou alguns enchidos” afirma ao NC António, 72 anos, que veio de Matosinhos, e que também aproveita para conhecer a Covilhã.

De Lisboa veio Luan, brasileiro radicado em Portugal há “um par de anos”, mas que nunca tinha visto neve. “Foi a primeira vez que tive esta experiência. Foi bem legal” assegura.

Paulo Pinto veio da Figueira da Foz, mas já morou na região, quando era mais jovem. Conhece a serra, até porque foi escuteiro e muitas vezes lá acampou, e garante que este chamariz é único para a região, mas que não é bem aproveitado. “Basta cair uns flocos e fecham as estradas. Nas outras estâncias, na Europa, isso não acontece. E não venham com o argumento de que esta neve não é igual” afirma.

“De um momento para o outro, o tempo muda”

Morador nas Penhas da Saúde, Gonçalo Poço, 48 anos, proprietário de uma loja de bicicletas na Covilhã, e um apaixonado pela Serra, e pela foto, lembra que a serra é “muito mais que neve”, mas está habituado a ver as autênticas romarias estrada acima quando caem os primeiros flocos. E diz que neste mês de março, este nevão foi daqueles que já não se viam há muito tempo. “Há quem diga que não se lembra desta quantidade há 30 anos. Este ano, foi diferente. A neve está por todo o lado igual, enquanto que em outros anos havia maiores acumulações em determinados locais, devido ao vento” conta. Nos dias em que as estradas estiveram fechadas, Gonçalo aventurou-se mesmo a andar pelas mesmas, onde havia locais em que a neve tinha camadas superiores a 4,5 metros. “Na zona da Torre estava toda certinha, e na zona do centro comercial, estava até ao telhado, devido ao vento” conta. Vento que, garante, é o maior obstáculo à limpeza de estradas. “Os limpa-neves passam e 20 minutos depois, está tudo igual” garante.

Gonçalo, na quarta-feira, 13, dia em que sol apareceu e em que as estradas foram todas desobstruídas, garantia que nesse dia a serra “estava atestada” e que havia “uma fila enorme para a estância de esqui”, que nesse dia anunciava nas redes sociais ter “a maior área esquiável dos últimos anos”, com 19 pistas abertas e três linhas de snowpark. Aliás, o último fim-de-semana foi mesmo aproveitado para a realização dos campeonatos nacionais de esqui.

A morar nas Penhas da Saúde, Gonçalo Poço elogia o trabalho “incansável” quer dos funcionários do Centro de Limpeza de Neve, quer dos bombeiros da Covilhã na limpeza das ruas. “Têm sido incansáveis. Não é um trabalho fácil nestes dias, mas tem sido cinco estrelas” garante.

De todo o modo, quem conhece bem a Serra sabe que, “de um momento para o outro, o tempo muda muito rapidamente” e, por isso, todo o cuidado é pouco. Daí que, por diversos meios e plataformas de comunicação, os bombeiros da Covilhã, e as autoridades, aconselhem sempre os turistas a seguirem as indicações dadas. E que, caso visitem a serra, tragam correntes, depósito cheio, mantimentos e agasalhos, pois por ali “todo o cuidado é pouco”. Daí o fecho frequente de estradas, sempre por razões de segurança, garante a GNR.

Gonçalo Poço está mais que habituado a ver forasteiros virem até ao Maciço Central e se há quem seja consciente, há também muita gente que não o é. “Continua a haver maus comportamentos e irresponsabilidades. Estacionamentos em plena via e gente que não vem preparada para visitar a Serra com mau tempo. Depois, queixam-se das estradas e da limpeza” frisa.

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