António Rodrigues de Assunção
Aproximam-se as eleições para as autarquias locais e é tempo de balanço sobre a nossa realidade, um balanço que tem de ser sério e ancorado em cada domínio da realidade a que se reporta. Só um tal balanço pode inspirar um programa a um tempo realista, ambicioso e transformador, que oriente a acção dos eleitos pelo povo em prol do mesmo povo. Sem demagogias e sem róis de medidas estendidas em verdadeiros “lençóis de papel”. Para não cumprir, claro, antes, perversamente disfarçados, para angariar votos. Não esquecer: exercer o poder político visa servir, nunca perdendo de vista que a Política, como alguém já a definiu, é a Arte do Possível.
O senhor vereador Serra dos Reis tem vindo, nas páginas do semanário Notícias da Covilhã, a “servir-nos”, através de artigos seus, certamente baseados no rigor advindo do seu conhecimento da realidade “térrea” do concelho e também na sua já longa experiência política autárquica, análises e pontos de vista acerca de problemas concatenados sobretudo no domínio económico. Ora aí está um bom contributo, no referido domínio da realidade, para os programas das candidaturas que se prestam e aprestam ao poder autárquico. Os programas políticos deverão ser ancorados no estudo e na investigação. Não devem descambar em meras intuições ou percepções sobre a realidade que se pretende transformar. Bem avisados andarão os candidatos e as candidaturas que trabalham em cima do estudo e da investigação. É sabido que, em Portugal, estuda-se pouco e ainda menos se investiga.
Dito isto, e sem desprimor dos valiosos e muito úteis trabalhos publicados pelo senhor Serra dos Reis, pretendo desde já afirmar que, lado a lado com a economia, a produção, as infraestruturas e os serviços – áreas em que o nosso concelho está muito carente – importa também inscrever, de forma articulada com aqueles, a componente social, isto é, as pessoas, que, numa perspectiva humanista e até, se se quiser, na linha da Doutrina Social da Igreja, são as destinatárias finais dos bens produzidos e dos serviços criados.
Falar do social é falar, sublinhe-se, de uma conexão, no sentido de que tudo se articula com tudo, o económico com o social e o ambiental e com o cultural, e quem ignorar isto ou fingir ignorar, não sabe nada de abordagens à realidade, e, sendo poder, só prejudica. A Covilhã e o seu concelho sofrem de muitas insuficiências sociais: desde logo na educação, onde faltam vagas em creches e jardins de infância e até, como se sabe, já no 1.º Ciclo. É grave, é preocupante, é amedrontador. No sector educativo, mas também no da saúde e no sector da mobilidade – esta tão necessitada de algumas reformas para a tornar mais efectiva e acessível a toda população do concelho. E no domínio ambiental, onde já se fez alguma coisa, mas onde tanto está ainda por fazer? E o que dizer sobre a habitação? Existe já um bem elaborado Plano Municipal de Habitação. O que já se fez? O que está ainda por fazer, se é que vai fazer-se alguma coisa? E na cultura, que é o “respirar” da vida comunitária e cívica de um povo, que se quer livre e emancipado?
Vou, pois, imitando de certo modo o senhor Serra dos Reis, abrir o meu contributo para os programas eleitorais que se aproximam. Contributo modesto, mas empenhado e também preocupado, em vista da necessária transformação da Covilhã.