António Rodrigues de Assunção
«Terra, Trabalho e Tecto»: eis, para o Papa Francisco, as bases fundamentais de uma Política Social para os nossos dias. Nesta política, se a terra traduz, no plano simbólico, a fonte geradora do pão e do alimento a que todos os seres humanos têm direito inalienável porque destinados à manutenção física da vida e o trabalho surge, em todas as suas dimensões, como o exercício activo da criação de riqueza que deverá ser justamente distribuída por todos, já o tecto, nesta simbólica do ex-Pontífice, representa a casa, a morada individual ou da família, onde todos e cada um se reúnem, se juntam em partilha. Sem casa, sem habitação, os homens e as mulheres e as crianças, não sobrevivem, ou, se sobrevivem sem abrigo, vivem sem dignidade. A casa, a habitação, é o lugar por excelência do homem, espaço de repouso, de convívio familiar, aí onde se desdobram as fiadas da vida, onde se tecem os fios da memória, da realização do ser de cada um. Sem casa, não há vida humana, em sua essência. Eis porque o chamado problema da habitação, que também é global em nossos dias, aliás foi-o sempre, sobretudo a partir da 1.ª Revolução Industrial, toca de muito perto nos Direitos Humanos. Ter uma casa é um direito. E está na nossa Constituição. Mas, para mal nosso, trata-se de um direito por cumprir.
Na Covilhã também está por cumprir, está longe de estar cumprido. Não é que faltem planos, estratégias, cartas locais, muitas ARUS… Não é que se negue que algo já foi feito e outro algo está em projecto. Falta cumprir. E este texto meu, mais do que um apelo, é um desafio e mesmo um aviso que enuncio assim: a resolução deste nosso problema do nosso concelho deve apontar para uma meta de execução e esta é: os quatro anos do próximo mandato. Trata-se de um problema de civilização, neste século XXI que já está a passar do seu primeiro quartel. A habitação tem de constar em todos os programas eleitorais. Mas como compromisso! Para que depois sejam pedidas contas. Não pode limitar-se a uma repetição exaustiva, sempre repetida em cada ciclo eleitoral: «A habitação é um direito de todos!, bla, bla, bla…». Deixem-se disso, senhores candidatos, estudem afincadamente o problema, vão ouvir e ver (mais do que falar e entregar papéis) as pessoas sem casa ou a viverem em casas onde não entra o sol e o ar puro, as pessoas que passam 30 dias por mês a pôr de lado euro a euro para angariarem, sabe-se lá como, as centenas de euros com que liquidam a renda. Essas pessoas, pais e mães de família, jovens casais, que se amontoam (sim, é verdade!) em quase cubículos sem conforto, sem aquecimento no Inverno e sem alegria, sem descanso. Senhores candidatos – e já agora quero também dirigir-m a um ou a outro que têm os nomes na lista não para servirem as causas nobres da política, mas para imporem perversamente que o seu envolvimento na política é uma hipocrisia, um mero acto de oportunidade de quem há muito vive do próprio mito que criou e outros alimentaram, que não passa de um serviço ao seu ego desmedido, afirmação de vaidade, do velho e revelho prazer de vencer este ou de o arrumar…
Porque o problema da habitação no nosso concelho – que afecta, em quantidade e em qualidade, os jovens que querem constituir família e ter filhos ( e que não querem emigrar – isso mesmo, os talentos de que tanto falais! ); que afecta famílias inteiras de imigrantes que acolhemos e que gostam de nós; que afecta minorias étnicas bem identificadas; estudantes universitários que desistem dos seus sonhos, sabeis porquê?; que agrava o viver de muitas famílias que, vivendo numa casa, vivem tão sem conforto e sem condições dignas porque, como sabeis, senhores candidatos, não dispõem de meios para pagar a renda de uma casa com outras condições. As tais rendas acessíveis! Esse é, entre outros aspectos, o problema da habitação em Portugal e na Covilhã. Mas, para o conhecerdes na sua realidade nua e crua, senhores candidatos e candidatas, têm de fazer, pelo menos duas coisas: estudar o documento chamado “Estratégia Municipal de Habitação” e um outro classificado como “Carta Local de Habitação na Covilhã”, este último elaborado por uma entidade independente e credível, onde está tudo o que é preciso saber sobre tal problemática; depois, e talvez o mais importante, devem encher-se de coragem, dar tempo, e disporem-se a ir …ver, ouvir mais do que falar ou entregar toneladas inúteis de papéis. As pessoas não ligam nada aos papéis! Mudem de paradigma, senhores candidatos: pratiquem a proximidade, ontem, hoje e amanhã e não apenas nas campanhas barulhentas que por aí fazem. Oiçam as propostas das pessoas, olhos nos olhos…não tenham medo! As pessoas querem uma casa, um tecto, como pregava Francisco, um Papa tão amado, tão elogiado …depois de falecer! (como Luís de Camões, que vivia numa espelunca de um bairro de Lisboa, que, se calhar nem podia pagar porque a “tença” que lhe fora atribuída pelo Rei Sebastião, vitalícia, ao que parece nem sequer lhe chegava às mãos…Grande mas pobre Camões, que se cá voltasse perguntaria entre espanto e dor: “isto, passado quase meio milénio, ainda existe na minha Pátria?!”
Estudem, leiam, vão ver e ouvir «in loco», com regularidade e não apenas na «caça ao voto»! Porque, para se saber alguma coisa, senhores candidatos, é preciso «passear e ler». E, infelizmente, lê-se cada vez menos…tirando através das “Tuitadas” na “X”.