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Covilhanense quer ensinar comunidade a falar por gestos

Mónica Gomes criou ferramentas para ensinar, a ouvintes e surdos, Língua Gestual Portuguesa

A covilhanense Mónica Gomes, de 37 anos, ficou surda aos 20, quando adormeceu com os auscultadores e o equipamento se danificou e lhe provocou danos nos ouvidos. Foi a ler os lábios que continuou a conseguir comunicar. Em 2020, as máscaras utilizadas aquando da pandemia tornaram “extremamente difícil” a leitura labial e foi quando aprendeu língua gestual, com um casal amigo. Agora cria materiais didáticos, com recurso a material reciclado, para facilitar a aprendizagem de ouvintes e não ouvintes, com o objetivo de contribuir para uma sociedade mais inclusiva.

Foi em ambiente hospitalar que Mónica Gomes se apercebeu, na interação com uma criança, que não existiam materiais adequados disponíveis para aprender língua gestual e que também as escolas não dispõem desses recursos, uma “realidade preocupante”.

Licenciada em Língua Gestual Portuguesa, e a frequentar uma formação em Educação Especial, também em Coimbra, começou a construir materiais didáticos para ajudar a que essa forma de comunicação seja “aprendida, respeitada e valorizada”.

A residir em Idanha-a-Nova, e com o mestrado no horizonte, Mónica Gomes recorreu ao que tinha à mão para construir jogos, manuais, fichas de atividades e outras ferramentas para que surdos e pessoas ouvintes consigam aprender, de forma lúdica e didática, os números, os dias da semana, palavras e a comunicação se torne mais fácil.

Com um acrílico que sobrou de uma farmácia e uma caixa de fruta, a covilhanense construiu um aquário, onde introduziu peixes desenhados por si. Com um pau, um fio e um íman, pescam-se os animais, a cada um corresponde uma letra do alfabeto e em função do que sai tem de se fazer o gesto correspondente em língua gestual.

Mónica também desenhou um jogo de atividades com a tabuada e utilizou restos de madeira para conceber um jogo com os dias da semana. Para uma avó que não conseguia falar com a neta surda, fez um livro de bolso com os gestos necessários para que se tornasse possível conversar com a criança.

O público-alvo, reforça, são pessoas surdas ou ouvintes e o material, sublinha, não substitui o papel dos professores ou os manuais e atividades de outras línguas.

O “Mundo da Mónica” pretende criar materiais bilingues, em Língua Gestual Portuguesa, que sejam eficazes e adaptados às necessidades individuais de cada criança”. “Acredito que cada aluno merece um apoio educacional que respeite e valorize as suas capacidades e limitações únicas”, acrescenta.

“A minha meta é desenvolver recursos de apoio que promovam a inclusão e facilitem a aprendizagem para todos, independentemente das suas condições. Com isso espero contribuir para um ambiente educacional mais acessível e equitativo, onde cada criança possa alcançar o seu potencial máximo”.

O projeto educativo da covilhanense já foi implementado em 38 escolas dos Açores e num jardim-de-infância em Coimbra. Há também reuniões marcadas com várias entidades até outubro, nomeadamente com a secretaria de Estado da Ação Social e Inclusão, e a professora está a aguardar um contacto da empresa de produção de jogos Science4You. Na Covilhã, ainda não há avanços.

Mónica Gomes deseja que nas escolas as crianças ouvintes possam aprender através deste método e permitir que “todos se integrem melhor nas escolas e se sintam incluídos”, o que teria reflexos no futuro nos vários serviços da sociedade que hoje se revelam obstáculos para quem é surdo.

“O meu projeto visa criar um impacto positivo significativo tanto para a comunidade surda quanto para o sistema educacional como um todo”, realça a dinamizadora do “Mundo da Mónica”, que anseia por uma sociedade mais “consciente e respeitosa em relação às necessidades da comunidade surda”.

Mónica espera tornar-se professora de Língua Gestual Portuguesa, especializada em crianças com necessidades especiais, e pede que as empresas e serviços tenham “uma base de comunicação acessível”, ou que quem tenha uma emergência e precise ligar para o 112, ou ir a uma consulta no hospital, não encontre uma série de obstáculos que podem ser amenizados se a Língua Gestual for “valorizada e integrada no sistema educativo, como outras línguas”.

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