Joana Melo
Covilhã a Marchar
A comunidade LGBTQIAP+ tem sido, ao longo da história e cada vez mais nos dias de hoje, alvo de preconceito, discriminação e violência. Preconceito este que está profundamente enraizado em questões culturais, sociais e religiosas, sustentando as narrativas de intolerância que nos vão passando pelos ouvidos.
A vontade de combater estes atos de exclusão e esta problemática deu origem à minha participação no coletivo Covilhã a Marchar. Um grupo de jovens que, em pleno 2022, e com muita vontade de mudar o mundo, começaram a reunir-se todas as semanas, ou sempre que podiam, acabando por organizar e realizar a primeira e maior marcha pelos direitos LGBTQIAP+ na Covilhã.
Parecendo ou não, só quem cresce fora do padrão por estas regiões é que realmente sente o peso dos valores tradicionais que nos excluem e nos invisibilizam. Ancorado a estereótipos, torna-se cada vez mais real que os jovens se sintam menos à vontade e menos capazes de abordar sequer aspetos sobre a sua sexualidade e identidade. Queremos fazer parte da construção de novas Beiras, que mantendo as suas bonitas tradições se abrem a novas formas de ser e de amar. É na diversidade que está a verdadeira riqueza.
Falo por mim. Enquanto mulher e jovem estudante, completando agora os meus 19 anos, tenho de confessar que me sinto, de certa forma, perdida e receosa sobre aquele que vai ser o futuro deste nosso mundo, das futuras gerações. Surgem muitas dúvidas filiadas a um sentimento de medo que, a meu ver, não é suposto ter.
Quero poder ter um futuro em que, independentemente da minha orientação sexual e género, não viva com o medo de poder ser julgada, odiada e desprezada, onde tenha as mesmas oportunidades e direitos. Quero poder expressar-me da maneira que quero, tomar decisões sobre o meu próprio corpo, ter uma posição firme sem ser chamada de “mandona”.
Já não se trata de um simples comentário ou de uma simples opinião. Já não estamos a assistir “apenas” a alguns casos de microagressões e comentários quotidianos, mas também a crimes de ódio brutais que levam a consequências devastadoras. O preconceito, a homofobia e a transfobia são crime, e têm colaborado cada vez mais no desenvolvimento de transtornos mentais nos jovens LGBTQIAP+, que enfrentam diariamente este medo de serem rejeitados pela sociedade, pelos amigos ou até pela própria família.
Uma certeza eu tenho, mudança tem de ser feita, e é muito mais do que levar uma bandeira ao peito e um megafone na mão. É sobre mudar mentalidades e construir um mundo onde eu, enquanto jovem, possa dar a mão a quem amo na rua, sem antes ter de olhar à minha volta, porque, no final das contas, eu e tantos outros jovens só queremos ser verdadeiramente livres e felizes. Apesar de tudo, não vamos desistir.