Cristina Lopes
(Designer)
Conhecem aquela brincadeira de repetirmos inúmeras vezes uma palavra até que ela deixa de fazer sentido? Tenho uma lista dessas palavras em eco que se tornam desprovidas de significado. Uma delas é-me especialmente cara: interior. Usado para separar partes de um país tão pequeno, mas que se torna enorme quando precisamos circular nele. Ou quando somos obrigados a circular nele.
O que está além do interior? O exterior? Até soa a qualquer lugar exótico. Saio da minha cidade do interior para uma do exterior, esse novo mundo evoluído e com lugares bonitos para visitar. Só que não. Saio para percorrer x quilómetros uma vez por mês para ir uma consulta de especialidade. Tão especial que só existe no exterior. A transposição dessa fronteira fica a cerca cem euros. Mais oitenta, noventa ou cem euros para a consulta especial, que é imprescindível para manter a saúde. Somando tudo, subtrai-se imenso ao que se ganha no salário.
A geografia não pode ser só a explicação para tal. O país é pequeno, pelo menos assim parece no mapa.
Não podemos ser uma mancha do país que serve para slogans políticos visando a caça ao voto prometendo mais para o interior. Promessas essas que ecoam tanto do exterior como do interior. O que é quase risível quando pensamos que os de cá usam o mesmo modo operandi. Porque o interior precisa… no interior há a necessidade de… vamos trazer para o interior… prometemos…
Bolas, há anos, vidas, que sabemos disso. Esgotam a palavra sem haver mudanças estruturais. Faltam-nos médicos bem antes de se perceber que faltavam no país todo. Habituámo-nos, mesmo que a reclamar, que quando a saúde precisa lá iremos a mais uma viagem ao exterior.