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Da Bouça para a Maratona nos Jogos Olímpicos de Paris

Depois de muitos títulos e recordes, Samuel Barata, o melhor fundista português da atualidade, de 30 anos, cumpre o sonho olímpico. É o primeiro covilhanense a qualificar-se para os Jogos Olímpicos de verão e dia 10 de agosto disputa em Paris a Maratona, para a qual conseguiu mínimos em dezembro, ao fazer a distância em 2:07,36. Licenciado em Química, o atleta do Benfica está totalmente focado no atletismo e conta com o apoio frequente em provas do grupo de amigos com quem cresceu

Notícias da Covilhã – O Samuel que ganhou durante anos provas pela Bouça olhava para os Jogos Olímpicos como um desejo?

Samuel Barata – Sim, a minha ambição era chegar aos Jogos Olímpicos. Sem dúvida era um sonho de criança estar presente onde os melhores atletas do mundo estão.

 

NC- Antes do Rio disse ao NC acreditar que o corpo estaria preparado para Tóquio, mas, por muito pouco, não conseguiu a qualificação nos 10 mil metros. Como foi ultrapassada essa desilusão?

SB – Senti que estive muito perto da qualificação e depois, quando percebi que não iria participar em Tóquio, foi uma desilusão. Fiquei a seis lugares, por ranking. Foram alguns dias que não foram fáceis a nível mental, mas já foi ultrapassado.

 

NC – A ida, aos 18 anos, para Lisboa e para o Benfica, a conciliação com os estudos foi um período de transição com dificuldades. Quando decidiu que o atletismo seria a prioridade?

SB – O atletismo começou a ser prioritário em 2018/2019. Foi a altura em que decidi que tinha de treinar a tempo inteiro para chegar às grandes competições. Os jogos de Tóquio ficaram muito perto depois.

 

NC – Estava no clube da aldeia desde os 12 anos, andava na filarmónica local, tinha os mesmos amigos e grupo de treino. O que significou a saída da Bouça e o que mudou?

SB – A saída da Bouça para Lisboa foi uma grande mudança. Para mim foi sair da minha zona de conforto. Mas foi uma escolha difícil, porque fiquei longe da família, dos meus amigos e, na altura, da minha namorada. Mas acho que valeu a pena todo este sacrifício. Quando faço resultados, eles ficam orgulhosos e eu também fico feliz por isso.

 

NC – Portugal tem campeões na Maratona, mas há alguns anos que estava sem referências. Como se dá a transição para esta distância?

SB – A Maratona é uma prova muito difícil. Não só pela prova em si, mas também pela preparação. O que acontece muitas vezes é que muitos atletas não conseguem chegar nas suas carreias à Maratona. Preferem explorar ao máximo as distâncias intermédias, como 1500m, 5000m ou 10000m e, quando preparam uma Maratona, é já numa altura de fim de carreira, onde o desgaste físico de uma carreira longa já é grande. Eu fiz a minha primeira Maratona em 2019, ainda era relativamente novo, tinha 25 anos. Passados quatro anos, na minha terceira abordagem, fiz 2m07.35. Em suma, a Maratona é uma distância em que é preciso experiência e também capacidade física.

 

NC – Quais são os objetivos para Paris na prova mais emblemática, em que os africanos costumam dominar?

SB – O meu objetivo é ficar na primeira metade da tabela. São 80 atletas. Por isso acho que top 40/30, na minha opinião, é uma participação muito positiva. Eu neste momento tenho a 50.ª marca entre os participantes.

 

NC – As caraterísticas do percurso podem ser uma vantagem ou uma desvantagem?

SB – A Maratona em Paris vai ser muito dura. Dura porque vai ter muitas subidas e descidas muito inclinadas. Tem subidas como do Pelourinho para o hospital velho na Covilha, muito duro mesmo. Sendo uma Maratona no mês de agosto, o calor irá ser um inimigo. Com as características desta Maratona, até pode ser uma oportunidade. Se eu tiver um dia bom, até posso fazer uma excelente classificação, porque muitos dos atletas que são favoritos podem não se adaptar.

 

NC – Como está a ser feita esta última fase de preparação?

SB – A última fase da preparação começa dia 1 de julho, no Quénia. Nesta fase estou a treinar bem. Tive só um pequeno problema físico no meu glúteo esquerdo, que me fez baixar um pouco a carga de treino. Mas neste momento estou recuperado e pronto para o último bloco de treino.

 

NC – Quando em dezembro foi conseguida a qualificação olímpica, que reações recebeu da família e dos amigos e conhecidos com quem cresceu?

SB – Senti que foi um orgulho enorme. Eles organizaram um almoço surpresa para comemorar o feito, nas Penhas da Saúde, e para mim foi muito emotivo e muito especial. Este almoço juntou a minha família, amigos, representantes dos clubes da região e as autarquias.

 

NC- Depois de tantos títulos nacionais, de tantas marcas, o futuro é em que direção?

SB – O futuro só Deus é que sabe. Eu, neste momento, é um objetivo de cada vez. Neste momento estou focado no JO. Depois vou analisar.

NC – A Bouça continua a ser um local habitual de treino, apesar da agenda preenchida?

SB – Sim, quando posso vou à minha terra passar alguns dias. E sim, se estou a treinar faço-o muitas vezes na minha terra. Não é fácil de correr lá, devido ao sobe e desce, mas é sempre especial.

 

 

NC – Quais são os laços que se mantêm com a Covilhã?

Praticamente toda a minha família e também da minha namorada são da Covilha e como eu e ela também fizemos praticamente a escola na Covilhã [Escola Frei Heitor Pinto], fizemos amigos para a vida. Mas a minha adolescência foi vivida com grande intensidade com grupo de jovens todos da Bouça e Cortes do Meio. Tive momentos espetaculares no Grupo Desportivo da Bouça, como também na Banda Filarmónica, que ficaram para vida.

 

NC – Foi inaugurada este ano a pista de corta-mato Samuel Barata. Como encarou esse gesto?

SB – Estou muito grato à freguesia de Cortes do Meio pelo gesto. Muito feliz também porque é um reconhecimento das pessoas da minha terra do todo o trabalho que realizei nestes anos todos na modalidade. Também estou muito grato à associação Amigos do Pedal, que no mesmo dia realizou o corta-mato com o meu nome.

 

NC – Durante os 42,195km, dá para pensar em quê?

SB – Durante estes quilómetros todos, o meu foco é unicamente na minha corrida. Estar atento aos movimentos e situações de corrida. Estar o mais descontraído e relaxado possível, para não perder energia. Depois, quando o cansaço aparecer, o foco é tentar que o ritmo não baixe e sofrer até à meta.

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