Todos já ouvimos falar, num vox pop ecoante, das dificuldades ou privilégios da profissão docente, dos 3 meses de férias, dos ordenados chorudos e outras efabulações. Em tempos de polarização este texto debruça-se sobre a partilha da história de uma professora de estrangeiro que ao longo da carreira já viu diferentes paisagens geográficas, geracionais e humanas. Ensinar, hoje, implica outros desafios. Embora as infraestruturas da escola ainda testemunhem de uma visão austera, herdada de uma conceção de escola/hospital/prisão do século XIX, a escola-sede da Frei Heitor Pinto já pôde contar com uma intervenção “refrescante” que lhe veio conferir mais cores, mais garridas e outros apetrechos ainda que fosse preciso muito mais para criar outros espaços, pensados de outra forma, para integrar todos os alunos, respeitando as suas idiossincrasias: uma escola verdadeiramente inclusiva.
Ensinar deve ser uma garantia que todos os alunos, independentemente da sua origem socioeconómica, tenham um acesso equitativo à educação. Não basta garantir a igualdade de direitos quando os pontos de partida são diferentes. Alunos de 7.º ano na cidade exigem aprendizagens e estratégias de ensino distintos dos de uma vila, ainda que todos precisem da aprendizagem das linguagens específicas para cada contexto de comunicação, competências que os Tik Toks e outras redes sociais vieram borratar com o seu imediatismo, rapidez, polarização e manietação.
Assim, dar aulas numa vila a sul do concelho proporcionou-me a descoberta de lugares de beleza e pureza que parecem estar cristalizados numa cápsula temporal. Ensinar numa vila ou na numa cidade, respeitando e adaptando-se às suas características e necessidades, acaba por se revelar um jugular de pedagogias num malabarismo humano que só pretende responder à multiplicidade de identidades.
Além disso, temos assistido nos últimos anos a um novo desafio, trazido com a vinda de novos alunos oriundos de vários países, a fugir da guerra ou da pobreza ou simplesmente à procura de outras oportunidades. Sem hesitações, sinto que esses mesmos desafios vêm acompanhados de riquezas culturais, linguísticas e sociais. Desde sempre, as miscigenações dos povos é que nos permitiram evoluir enquanto seres humanos que apesar das suas diferenças, habitam um mesmo planeta.
Por outro lado, saliento que apesar da minha escola não fazer parte do top dos rankings da falaciosa meritocracia, estamos numa escola onde, quem passa por ela, leva o legado dos afetos. Acredito por isso que a transmissão pura de conhecimentos e a inteligência sem emoções não passa de um eucalipto que, crescendo rápido e sendo economicamente mais interessante, seca tudo à sua volta e arde com mais facilidade. Enquanto escola temos de estar cientes do nosso papel humanista e da importância de formar crianças ecológicas, solidárias, respeitadoras das diferenças, altruístas e sensíveis se quisermos, de facto, almejar um mundo melhor.