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Digo sim a Marina!

Esta é a história de quem durante anos sentiu disforia de género

Quem quer casar com Marina, que é formosa e bonitinha?! Quero eu, quero eu! Espera, eu não, afinal não posso. A sério?! Então porquê, se ela foi eleita a mais bonita, num concurso de beleza, de tal forma apresentará lá fora as suas credenciais, mais físicas principalmente, representando o país. Pois sim, mas eu olho para ela, para o embrulho e tal, parece tudo no sítio, mas… afinal aquilo é tudo “recauchutado”. Não, assim não contem comigo, para alinhar nesta ideia de que um lindo homem se transformou numa linda mulher. Isto não é natural! Lá está, este é um diálogo imaginário, tido entre nós, caros machistas, cheios de preconceitos e teias de aranha, e que ainda olhamos para o mundo como aquele espelhado no anúncio racista de um país colonial, de um produto que restitui aos cabelos a sua cor primitiva, e que na mensagem de então dizia que “um preto de cabeleira loira ou um branco de carapinha não é natural… o que é natural, é cada um usar o cabelo com que nasceu…” e blá, blá… blá. Ora, como sabemos, “todo o mundo é composto de mudança”, e esta não é uma história da carochinha, muito menos um episódio de troca de cor de cabelo. Não, é bem real, tão real como a rejeição que qualquer mulher transsexual sente quando se apresenta como tal, com a escolha que fez.  Esta é a história de alguém que com quatro anos de idade, queria brincar com Barbies, e só lhe davam Action Men, e aos dezoito, em Outubro de 2013 se tornou mulher de corpo inteiro, num país ainda muito sensível às questões do género, e que muitos de nós recusamos a aceitar. Esta é, em primeiro lugar uma história em que a coragem se sobrepôs ao medo, e em simultâneo uma história de poder e de querer. De alguém que quase desde sempre, soube quem era, como se sentia ser, o que quis ser, e como para ser teve de se transformar fisicamente. Esta é a história de quem durante anos sentiu disforia de género, e que na adolescência era uma menina, apesar do bullying exercido por rapazes e por raparigas. Por todos. Esta é a história de uma mulher que aos que não a querem como mulher, responde com o sonho de ser mãe, que espera cumprir em breve. Devemos estar orgulhosos desta vontade, desta verdade. De percebermos que, no exercício do direito a ser livre, Marina Machete cala os “velhos do Restelo” que na defesa da razão, castigam a ambição legítima de sermos quem queremos ser, cala os preconceituosos que olham para o chão, cala os falsos apoiantes da liberdade que não a sabem viver, e cala os “galarós” que mal sabem cantar. Eu sim, digo sim a Marina, varro a cozinha, tomo conta da panela ao lume, mesmo correndo o risco de cair no caldeirão. Como na história da Carochinha.

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