António Rodrigues de Assunção
No dia 2 de novembro tomaram posse dos seus cargos os novos eleitos para os diversos órgãos do Poder Local. Os respectivos mandatos terão uma duração de quatro anos, no decurso dos quais se espera que promovam, em conjunto, as políticas necessárias e indispensáveis para o desenvolvimento sustentado do território e o bem-estar das populações da cidade e de todo o concelho.
Muito há a fazer na cidade e, certamente, em cada uma das freguesias. No que concerne à cidade, os problemas e os desafios são muitos e tocam praticamente em todas as áreas, desde a economia ao urbanismo, na habitação para todos e nos serviços de saúde inclusivos, nas creches que faltam, na cultura e no património, enfim, nas estruturas e condições que falham no plano de mobilidade que terá de ser renovado. Muito há, pois, a fazer, até porque em muitos domínios o balanço dos últimos 12 anos deixa muito a desejar.
Mas hoje, gostaria de chamar a atenção da vereação recentemente empossada para alguns aspectos a que normalmente não se presta a atenção e o cuidado devido pelos responsáveis da governação municipal, aspectos esses aparentemente olhados como “menores” no dia a dia da cidade. Mas enganam-se aqueles que assim pensam. Refiro-me ao panorama sócio-ambiental que tem sido descurado, diria mesmo objeto de desleixo, tais como a limpeza, o asseio das ruas e avenidas, e até a estética – sim, a estética – da nossa cidade. Cidade de Montanha, a Covilhã impõe-se pela sua beleza “natural”. Mas, muito aquém dos 2000 metros, a “urbe” apresenta-se muito maltratada, feia, suja, desleixada, desprotegida nas condições de mobilidade por graves deficiências das estruturas físicas que o tempo foi deteriorando perante a indiferença dos responsáveis municipais. Isto convida a uma atenção redobrada dos senhores vereadores e do senhor presidente do executivo. Vai nesse sentido o título deste artigo, que se deve traduzir assim do Latim para bom português: “Conduzindo-vos pela cidade”. Um convite a que deixem por um dia ou dois os Paços do Concelho e desçam à realidade quotidiana da cidade. DUC VOS PER URBEM.

Sem pretender ser exaustivo, chamaria a atenção da vereação para o estado dos passeios pedonais, quase todos a necessitarem de obras de requalificação. Venham: vereis espaços, normalmente exíguos e estreitos para uma mobilidade agradável e segura, porque esta cidade foi construída para o automóvel e para a satisfação do imobiliário e consequentemente para as receitas do IMT e do IMI e não para as pessoas. Isto, apesar dos já estafados discursos grandiloquentes: “vamos governar para as pessoas!”; vereis esses passeios, por vezes autenticamente abalroados pelo “senhor automóvel”, que os ocupa com a arrogância de quem se julga senhor absoluto do espaço público, cheios de buracos, alguns deles tão extensos e cada vez mais profundos que mais parecem “crateras”, onde tropeçam os nossos idosos e as crianças desta cidade que “Tece o Futuro”…; vereis ainda que além de perigosos, os passeios pedonais têm pavimentos feios, irregulares, apresentam-se sujos, denotando o desleixo dos serviços municipais que todos pagamos. Vereis, por exemplo, ali onde se inicia a Rua Dr. Manuel Castro Martins, ao lado da qual se ergue um mastodôntico edifício habitacional que, além de “tapar” o sol e a contemplação da paisagem do lindo vale das vistas dos moradores da Rua Cidade do Fundão, vereis, dizia, que, ao começarem a descer a referida rua podereis ser assaltados e agredidos, se não tomardes as devidas precauções, pelas muitas hastes de silvas que saem, ameaçadoras e agressivas, dos silvados sobranceiros…Sim, silvados que “habitam harmoniosamente” com a grandeza do tal prédio mastodôntico…Sinal dos tempos que vivemos, tempos de enormíssimos contrastes! Ali, um prédio de luxo, a seu lado, também ali, extensos silvados, indiferentes à integridade física de quem passa. Coisas da modernidade decadente de uma cidade que se reivindica do Iluminismo!
DUC VOS PER URBEM. Mais do que olhar e verem, “observem”, senhor presidente e vereadores. Porque observar é ver, mais do que com a vista, com os olhos do espírito, porque este é a verdadeira fonte inspiradora do “cuidado”. Vereis mais: a cidade suja, dir-se-ia quase imunda, em vários sítios onde estão postados os chamados “ecopontos” para a recolha de lixo doméstico e resíduos sólidos. Muitos deles – mas é preciso “observar”, olhar e ver atentamente – não são devidamente lavados e desinfectados, constituindo-se assim como autênticos “ninhos” de bactérias, fontes de doenças para crianças e animais. Com equipamentos grosseiros, muitos deles metálicos, também estes ameaçam a integridade física dos que deles se servem, muitas vezes crianças ou velhinhos que arriscam ficar feridos pelo material cortante de tais recipientes. Se souberem “observar”, senhores vereadores, acredito que sintam vergonha.
DUC VOS PER URBEM. Vereis também parques e jardins votados ao desleixo, ao abandono, como o chamado Parque da Goldra, onde estão enterrados milhares e milhares de euros. Venham ver! E venham ver também a progressiva degradação do Jardim do Lago, uma obra interessante, mas em risco, se não lhe acudirem. Quanto ao impropriamente chamado Jardim Público – pelos vistos há jardins sem flores! – constatareis, acredito, quão precisado está de uma intervenção requalificante, devolvendo-o depois aos covilhanenses como Parque da Cidade.
Termino com uma evocação histórica. Nos já longínquos anos de 1920-1930, foi criada nesta cidade, como em outras do país, uma Comissão de Iniciativa Turística, embrião da futura Região de Turismo da Serra da Estrela. Dessa Comissão, fazia parte, entre outros homens notáveis da cidade, João Alves da Silva, que fora Presidente da Câmara na década de 1920, em plena 1.ª República. Li várias actas das reuniões dessa Comissão. E nelas quase sempre constatei a preocupação reiterada com a limpeza e o asseio da cidade. E também com a sua estética. Tempos de amor e cuidado por esta urbe, que tanto amamos. DUC VOS PER URBEM!
