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“É da idade…” será mesmo?

Rosa Marina Afonso

Doutorada em Psicologia/ UBI

Quantas vezes julgamos as pessoas com base apenas na sua idade? Considerar que uma pessoa tem determinada característica, dificuldade ou interesse devido ao facto de pertencer a um dado grupo etário por levar-nos a discriminar alguém ou, inclusivamente, à autodiscriminação.

Esta forma de discriminação tem um nome: idadismo, a discriminação com base na idade que a pessoa tem, que nos afeta a todos, sendo mais notória em relação a alguns grupos etários.

Considerar, por exemplo, que é normal que um adulto mais velho tenha dores ou que se sinta deprimido devido à sua idade “avançada” e, por isso, não investir no seu tratamento, são formas de idadismo muito frequentes no contexto em que vivemos. Por outro lado, considerar que um jovem adulto, só porque tem determinada idade, não tem maturidade, nem estabilidade ou responsabilidade para um determinado emprego, também é uma expressão de idadismo.

O idadismo pode assumir formas mais diretas e indiretas, interpessoais e institucionais.  Se, por exemplo, no planeamento e preparação de um espaço não são criadas condições de acessibilidade para pessoas que possam ter mobilidade reduzida, criamos contextos promotores de atitudes idadistas.

O idadismo tem subjacentes ideias e crenças, que vamos construindo desde pequenos através da socialização, dos média, do que ouvimos e experienciamos. A partir daí construímos ideias generalizadas sobre o que significa ser velho ou ser jovem, muitas delas erradas, que ativamos e que nos levam a atitudes e comportamentos idadistas que limitam o desenvolvimento humano e violam os direitos das pessoas. Por exemplo, ter a ideia que as pessoas mais velhas têm declínio cognitivo e /ou apresentam fragilidade, pode gerar uma sobre proteção dos mais velhos, que os impede de exercerem os seus direitos, nomeadamente de decidirem, e de se desenvolverem.

Este idadismo que a pessoa constrói e interioriza ao longo da vida, é frequentemente autodirigido: “Eu gostava, mas já sou velho para”. Ou seja, a própria pessoa poderá auto limitar o seu desenvolvimento e bem-estar devido às crenças erróneas que possa ter.

Efetivamente, ao longo do processo de envelhecimento, ocorrem alterações fisiológicas e psicológicas, associadas a mudanças e perdas a diferentes níveis, havendo uma maior prevalência de patologias, nomeadamente crónicas. Em termos psicológicos, as mudanças ao nível do funcionamento cognitivo ocorrem desde muito cedo.  Por exemplo, a velocidade de processamento de informação vai diminuindo e a pessoa precisa de mais tempo para a realização de determinadas tarefas, como por exemplo ler legendas. Porém, aspetos como conhecimentos gerais sobre o mundo, resolução de problemas e reinterpretação e reavaliação do que acontece na vida, melhoram com a idade.

A heterogeneidade entre nós é enorme e é ainda maior à medida que a nossa idade aumenta. O coletivo de adultos mais velhos apresenta características, perfis, interesses e condições de saúde altamente diversificados. Identificar e questionar ideias e preconceitos idadistas é, precisamente, a forma   de se respeitarem os direitos e a dignidade da pessoa independentemente da idade que possa apresentar.

Com o aumento da longevidade, muitos viverão duas ou três décadas nesta fase do ciclo vital (a velhice poderá ser cerca de um terço da vida). Questionar, identificar e combater ideias, praticas, contextos, políticas e medidas idadistas é uma obrigação de todos para que seja possível usufruir-se da nova longevidade, sendo-se solidário com as diferentes gerações.

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