Quatro piscas ligados, carro parado na via, e uma saída rápida para deixar duas crianças na creche. Tem sido assim, ao longo dos últimos anos, a vida de Marina Matias, que tem dois filhos na Fundação Imaculada Conceição, mais conhecido por Colégio das Freiras, na Covilhã, e que na manhã da passada segunda-feira, 13, deixava mais uma vez os seus filhos na escola, embora com um sentimento de preocupação. É que, na passada sexta-feira, 10, Marina, e os outros pais que ali têm crianças, foram informados que a 31 de agosto, a instituição fecha portas.
“Só soubemos na sexta-feira, na reunião. Enviaram-nos uma carta, a explicar. Tenho aqui dois filhos, um no ATL e outro na sala dos quatro anos. Não sei muito bem qual será a alternativa. Não vai ser fácil” frisa Marina, que adianta que, pelo sim, pelo não, esta semana vai inscrever os educandos em creches particulares. “Mas da maneira que isto está na Covilhã, não vai ser fácil” lamenta.
Na sexta-feira, pais e funcionários reuniram com responsáveis da instituição, a Congregação das Irmãs Doroteias, que comunicaram o fecho da mesma. Na carta enviada aos encarregados de educação, três motivos para este desfecho: a falta de irmãs, dificuldades económicas que dificultam a sua sustentabilidade e a necessidade de intervenções “significativas” no edifício, que não é pertença da Congregação. “Temos consciência do que isto significa para as pessoas que aqui trabalham e para as famílias, mas dadas as circunstâncias, esta decisão é inevitável” frisa a direção.
Porém, para alguns pais, pode haver algo mais. Para Carolina Lanzinha, em representação de um grupo de pais, as justificações apresentadas “não convencem” e “levam-nos a crer que há algo mais, para além do foi transmitido. Pois, todas as soluções apresentadas pelos pais, não foram atendidas, pois dizem ser uma decisão irreversível.” Também Marina recorda que na reunião “não deram abertura para se conseguir uma solução. Dizem ser uma situação irreversível.” E sobre as condições físicas do espaço, garante que, do que conhece, “tem boas condições. Tenho cá crianças há oito anos”.
Com 180 crianças e 30 funcionários em causa, os pais temem pelo futuro, e pela falta de espaços onde deixar os filhos. “A situação para encontrar vaga em escolas públicas ou privadas é caótica e agora 180 crianças ficarão nessa situação, assim como cerca de 30 funcionárias ficarão sem trabalho. Esta instituição faz parte da história da Covilhã e tem uma responsabilidade e um caráter importantíssimo na cidade, assim como na forma de ensinar, educar e formar as suas crianças” frisa Carolina Lanzinha, que espera que possa haver uma solução que mantenha o Colégio das Freiras a funcionar.
Também à porta do edifício, Paulo Fernandes, residente na cidade, deixa o seu filho de 22 meses antes de seguir para o Fundão, onde trabalha. “Tenho cá a criança há cerca de 20 meses. Dizem agora que não há verbas. Não acredito que se mantenha, mas se houvesse vontade, acho que se conseguia. Uma coisa é certa: causa muito transtorno. Eu ainda não sei que solução terei, mas cá na cidade é muito complicado ter uma alternativa” frisa.
Também Albertina António veio deixar o irmão de oito anos, e soube na sexta que isso só será possível até agosto. “Não vejo soluções onde o deixar. Não sei o que vou fazer. Pela hora do trabalho, noutros lugares, não vai dar certo. Aqui, está aberto até por volta das sete da tarde, e noutros lugares, não. Com tantas crianças, não faz sentido fechar.”
A União de Freguesias de Covilhã/Canhoso, em comunicado, diz já ter solicitado uma reunião à direção da instituição e apela à Câmara para que “se junte a nós no sentido de reverter esta decisão, que em muito penalizará a freguesia e o concelho”.
Em termos políticos, a concelhia do PSD também defende que a Câmara assuma um “papel ativo” na preservação do Colégio das Freiras. “Com uma história centenária, tornou-se uma instituição emblemática, reconhecida pela sua qualidade e pela dedicação à formação de sucessivas gerações de covilhanenses”, frisa. E diz que a decisão anunciada “lança um alerta para a responsabilidade compartilhada entre a Igreja, a Segurança Social e em particular a Câmara Municipal da Covilhã.”
Já a concelhia do PS, também em comunicado, lamenta “o anunciado encerramento e a perda tanto real como simbólica que tal significa para o concelho”, diz que as razões invocadas, nomeadamente a falta de irmãs “são de monta”, e frisa que a instituição social é gerida por uma entidade religiosa, privada, “na qual a Câmara da Covilhã não tem ― nem nunca teve ― qualquer intervenção direta.” E desafia o PSD/Covilhã e as forças vivas da cidade para se unirem a ela “na exigência ao governo da AD para que prossiga as políticas de apoio concreto das famílias, nomeadamente, e no caso da Covilhã, no reforço das verbas de financiamento à construção das duas creches enunciadas no Canhoso e Tortosendo, e proceda ao aumento das vagas em creches nas instituições já existentes”.