José Fragoso Henriques
A vida vai longa, não vai torta, correu e corre depressa, correu e corre, por vezes, bem, e por vezes, mal. A vida corre como as horas, por vezes as horas não correm, arrastam-se. As horas, o tempo, umas vezes digo de uma maneira, outras vezes digo de outro modo, a partir de um critério que foge a um qualquer arbítrio. Como a vida de cada um, de cada família e de cada povo. Os homens que escrevem a história e as estórias procuram dar-lhes um jeito, uma forma, talvez um sentido criativo que não tinham na sua génese, como um tempo “inicial, inteiro e limpo” usando, sem licença, um trecho de um poema de Sophia.
No dia 10 de Julho de 2016, no Stade de France, em Paris foi o que aconteceu, quando ao minuto 109, num prolongamento carregado de sofrimento, onde Patrício, a partir desse dia santificado, evitou as balas pesadas dos futebolistas franceses, Éder recebeu e correu com a bola, passando, possante, determinado numa vontade que não era só sua, por três franceses e ainda longe da área ergueu a cabeça e rematou colocado, um remate insensato, seco e rasteiro que acertou contas com as invasões napoleónicas; as meias finais do Europeu de Futebol perdidas em 1984 e 2000; e com gerações de emigrantes que poucas vezes foram vistos como vencedores ou potenciais vencedores.

Ederzito António Macedo Lopes, nasceu em Bissau, a 22 de Dezembro de 1987, e em Portugal se fez jogador e homem. Como diria Molero, um rapaz português, improvável herói, como devem ser os heróis, por umas horas, uns dias, cobriu de orgulho milhões de portugueses. Foi um orgulho, um lavar de alma e brio por todo o país, pelas terras da diáspora, pelas terras da portugalidade. E como assim foi em França, na Suíça, na Bélgica, na Alemanha, no Luxemburgo, nessas terras de povos ricos, “senhores do mundo” que nos receberam como operários, serventes e outras profissões que os seus cidadãos rejeitavam. E anos, décadas depois, fomos campeões europeus frente a França em Paris. E os filhos dos primeiros emigrantes já são médicos, advogados, operários, comerciantes, motoristas, gente de todas as profissões.
Ederzito, agora já, Eder cresceu nas fraldas de Coimbra, cidade de doutores, foi jogador no Tourizense, Académica, Braga e outros tantos clubes no Reino Unido, Rússia e mais uns tantos. De outro modo, mais favorecido, foi outro emigrante português. Dá vontade de escrever “malhas que o Império” teceu.
Éder, e seus camaradas, correram uma maratona para a sua glória, e a dita senhora, a glória, é coisa vã, pelos portugueses e Portugal, na sua dimensão universal, carregada de acções, feitos épicos, feitos trágicos.
Éder, tal como Carlos Lopes, Rosa Mota, foi um atleta da “Maratona colectiva” carregando a tocha da vitória. A vitória de cada dia.
A vida vai longa, por vezes corre bem e por vezes corre mal. Mas, corre, como dizia Molero.



