Cedo erguer, dá saúde e faz crescer. Nada de mais. O dito popular assenta na vida de Gageiro. Porque bem cedo, a sua presença e o seu olhar, ajudaram a contar a história. Ele foi quase sempre o primeiro a chegar aos momentos mais importantes. Criando registos intemporais. Estava lá bem cedo, na madrugada em que tudo mudou. Foi o primeiro a juntar-se aos militares que golpearam o Estado, e a disparar para todo o lado. Tudo o que mexia era história, e o fotógrafo nascido em Sacavém, sabia que as suas fotos ficariam como o registo de momentos inexplicáveis de outra forma. Como aquele, em que naquela manhã de Abril, os militares fiéis ao regime se passaram para o lado bom dos acontecimentos, rendendo-se ao capitão Salgueiro Maia. Foi o momento em que o triunfo parecia inevitável. Como tantos em que os lisboetas, os milhares que saíram à rua, para festejar a revolução. Ou como aquele, talvez o mais icónico, em que uma foto de Salazar é retirada da parede. O fim de um regime que Eduardo Gageiro soube contornar, não deixando de ao longo dos anos fotografar um país miserável, um país de pobres, fazendo um retrato das deficientes condições sociais. Correndo riscos, como alguém que precisa de os correr para que o mundo saiba. E o nosso mundo ficou a saber, e ficou bem mais rico pelo impressionante legado que este sacavenense de gema nos deixou. Em Abril passado, Gageiro já muito doente desceu a Avenida pela última vez. Deixou-nos numa madrugada. Francisco Figueiredo