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Ei-los que voltam para lá

“O que custa mais é a viagem de regresso, quando estou no avião e comboio de regresso à cidade onde estou”. Quem o diz é Gaspar Ramôa, sobre o regressar à Alemanha depois das férias em Portugal. Emigrado em Nuremberga, foi há cerca de três anos que o jovem de 26 anos voou para aquela cidade depois de ter ganho uma bolsa para fazer doutoramento. Neste momento, encontra-se na reta final dos estudos e a trabalhar numa empresa de desenvolvimento de tecnologias para invisuais.

Gaspar afirma que é na viagem de regresso que “pensa mais na sua vida e todos os pensamentos fluem”. Contudo, o regresso à rotina ajuda a atenuar as saudades e a tristeza. “Diria que no dia seguinte estou bem. Volto à rotina, vejo os meus colegas, que também tenho saudades deles, gosto do que faço e isso ajuda”, refere.

A tristeza da despedida da família também é partilhada por Liliana Ramos, 47 anos. Liliana afirma que é “muito complicado deixar a família”. O pensamento de vir a Portugal acompanha-a durante todo o ano, mas que depois “é tudo muito curto”.  “A gente vê as pessoas envelhecer e depois começamos a dizer ‘a avó já tem esta idade, será que para o ano está cá?’ e quanto mais para a frente, vemos que precisam de nós”, diz com alguma tristeza.

Foi a crise de 2008 que fez com que Liliana e a sua família se mudasse para França. “Comecei por trabalhar nas limpezas. A gente faz um bocadinho de tudo… tratar de pessoas idosas. Atualmente, continuava a fazer o mesmo, mas agora não estou a trabalhar”, revela, acrescentando que isso agora lhe permite vir com mais tempo a Portugal.

O mesmo acontece com Carma Gabriel que, durante a reforma, fica em Portugal cerca de dois meses, ao contrário do que acontecia quando trabalhava, que vinha por apenas duas ou três semanas. Desde que está na França, há 52 anos, que Carma vem a Portugal no verão. “Só não vim em 2020”, diz.  Foi em 1971 que Carma foi com o marido para França. “Estávamos casados há sete meses e fomos embora, os dois, de comboio a salto”, recorda. Diz que “foi duro” chegar a um país desconhecido e não conhecer ninguém. Nem a língua. “Quando fui, a gente escondia-se com vergonha de não saber falar”, revela a emigrante de 74 anos.

“Gosto da França porque foi lá que fiz a minha vida e vivi estes anos todos, mas gosto muito de vir a Portugal. É diferente. O ar, as pessoas, tudo”, opina.

Regresso a Portugal fora do horizonte

O regressar para Portugal é uma opção que já está fora de planos. “Agora não. Enquanto o meu marido foi vivo, nunca falámos disso, só o vir de férias. Se fosse noutro tempo, vínhamos embora. Hoje já não”, confessa Carma.

Tatiana Teixeira também afirma que voltar para Portugal não está nos planos. “Penso em voltar quando for mais velha e se voltar”, diz. Há quase oito anos fora de Portugal, a jovem de 29 anos começou por trabalhar na área da hotelaria em França tendo, há cerca de quatro anos, mudado-se para a Suíça onde exerce, atualmente, contabilidade.

“Depois de muito tempo, consegui finalmente estar na minha área e sou contabilista”, refere Tatiana. Apesar de ter trabalhado em hotelaria, indústria e restauração, Tatiana afirma nunca se “ter esquecido do seu objetivo”.

A viver com o marido, a jovem diz que não se veem como “os típicos emigrantes”. “Não nos consideramos emigrantes. É aqui que temos tudo, foi aqui que construímos a nossa vida e é aqui que a gente quer ficar. Não somos os típicos emigrantes que vamos construir uma casa em Portugal para mais tarde voltar”, revela. A contabilista e DJ, afirma que teve de “suar muito” para conseguir estar onde está. “Não podia tirar seis ou sete anos da minha vida com o que já consegui ter e a vida que tenho”, diz.

A frequência com que vem a Portugal não é muita. “Claro que a minha cidade é a minha cidade e eu gosto de ir lá e chorar por um pastel de nata [risos], mas em questão de família a internet veio aproximar muito”, confessa Tatiana. “Prefiro pegar no dinheiro e ir para outro sítio com o meu marido e por exemplo, no Natal, dizer à família para vir cá”.

Já Gaspar Ramôa, afirma que nos próximos “dois anos, pelo menos” ainda pensa estar na Alemanha, mas que ainda se sente indeciso. “Pode surgir uma oportunidade em Portugal em que possa ganhar bem e ter qualidade de vida, mas na Alemanha há muito mais oportunidades, então depende muito”, considera. “Talvez um dia volte para Portugal e crie a minha empresa”, diz.

Liliana Ramos não tem dúvidas quando diz que quer voltar ao seu país natal. “Quero ir-me embora, estou farta”, revela. “As pessoas, a maioria dos portugueses aqui, arranjaram a vida e gostam de cá estar, mas querem ir embora”, afirma Liliana.

“A minha filha está a estudar e enquanto ela não tiver o curso dela, a gente não pode abalar. Queremos deixar os miúdos bem e depois eles têm a vida deles e nós temos de ir à procura da nossa”, refere Liliana.

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