O grupo Tavfer, proprietário da central de biomassa localizada em Belmonte, diz desconhecer a intenção da autarquia em desmantelar a estrutura e não dá por certo o fim da atividade na central, inativa há cerca de uma década. “Não tem havido qualquer contato (com o município) acerca do imóvel e da sua estrutura” garante o grupo, em respostas a questões colocadas pelo NC.
A central foi inaugurada em maio de 2010, numa das margens do rio Zêzere, num investimento de oito milhões de euros, que criou então 12 postos de trabalho diretos e que pretendia funcionar com os desperdícios florestais produzidos em Belmonte, Covilhã, Guarda, Sabugal e Penamacor. Só que fechou pouco mais de três anos após a abertura. Foi a primeira central termoelétrica de biomassa florestal da Beira Interior, que começou logo a injetar energia na rede da EDP e que tinha capacidade produzir mais do que os dois megawatts atribuídos no concurso público lançado pelo Governo em 2006.
Segundo a Tavfer, este foi um projeto “ambicioso”, quer a nível financeiro, quer ao nível da floresta em Portugal, e que pretendia “reorganizar a floresta e os desperdícios, criando uma economia de escala para principalmente combater os incêndios e valorizar a floresta.” A ideia era ser “uma mais-valia para a região”, mas “rapidamente foi verificado no terreno que a economia da região e os players não estavam preparados para tal orgânica de proteção florestal. O material era escasso, muito era consumido por centrais de consumo que não estavam legisladas para produzir eletricidade, os sobrantes eram vendidos a empresas florestais para outros fins, muitos sobrantes eram deixados na floresta, os consumos do transporte eram incontornavelmente altos para ir recolher material a outras paragens, tendo inclusive o Grupo Tavfer criado uma empresa para recolha de desperdícios florestais para abastecer a própria central” explica ao NC.
O grupo Tavfer recorda ainda que a central “não teve qualquer apoio público para a sua implantação” e “não beneficiava de nenhum preço especial de venda da eletricidade”, embora tenha sido erguida em terreno municipal, cedido pela Câmara de Belmonte, por um período de 25 anos. A empresa diz que “com o tempo” e com a alteração de “muitos fatores económicos e estruturais” foi pensada a reconfiguração da central para ter produção de energia limpa através de outras fontes, como a solar ou eólica. “Mas tudo foi ficando sem resposta” lamenta.
Segundo o grupo, em agosto de 2016 foi feita a última injeção na rede avançando-se então para paragem técnica de rotina normal. “Com a manutenção de toda a panorâmica nacional, foi decidido não avançar com as manutenções para começar a laborar no inverno de 2016 e tentaram-se várias alternativas para sustentabilizar o investimento” conta a Tavfer, que em 2022 reuniu com a Direção Geral de Energia e Geologia (DGEG) no sentido de manter os preços de venda de eletricidade, aumentar a potência e realizar a híbridação da estrutura, “o que veio a ter resposta negativa da própria DGEG.” O grupo diz ter solicitado novo encontro, que foi negado, e em abril de 2024 recebeu uma comunicação “da cessação de contrato da central”, aguardando reunião desde tal data. “Não é por isso da nossa responsabilidade a falta de tentativa da manutenção do ativo em causa e da sua híbridação, diga-se central fotovoltaica e eólica, para aproveitamento da ligação à rede” garante, aguardando “com expectativa” reunir com a tutela e “posteriormente avançar para novo procedimento que passará sempre pelo diálogo com o Município de Belmonte.”
“A nossa prioridade sempre foi o bem comum e a inovação no combate ao flagelo do abandono da floresta e no combate aos incêndios. Agora, infelizmente tarde, está a ter-se noção da importância da existência destes equipamentos para ajudar a economia circular da floresta, no combate à desertificação e aos incêndios” frisa o Grupo Tavfer.
Em abril de 2018, o presidente da Câmara de Belmonte, António Dias Rocha, revelava haver um investidor interessado em reativar a estrutura, mas o processo parou. Disse então ter “boas relações com o proprietário”, com quem reuniria para saber quais as intenções para a central. No mês passado, o autarca belmontense admitiu mesmo que imóvel seria para desmantelar. “Quero que desmantelem aquilo tudo ou vou desmantelar, deitá-lo abaixo. Não serve para mais nada” disse o autarca belmontense no final de uma reunião pública do executivo. “Ainda faltam, creio, que sete anos para terminar o acordo que havia. Mas como a empresa que construiu nunca conseguiu por aquilo a funcionar em pleno, não é agora que o vai fazer” adiantava ainda o autarca belmontense.
Na inauguração, em 2010, Fernando Tavares Pereira, dono da Tavfer, lembrava que o projeto tinha sido levado a cabo “inteiramente com capitais próprios” agradecendo “o único apoio” que tivera: a cedência do terreno, por 25 anos, por parte da Câmara. “É mais um projeto nosso no interior e deveria haver outros similares nas zonas mais desertificadas para fomentar a fixação da população” desabava o empresário.
Com o concurso público lançado em 2006 para a instalação de 15 centrais termoelétricas de biomassa no país, a Direção-Geral de Geologia e Energia esperava aproveitar até um milhão de toneladas de biomassa por ano para produzir eletricidade e atingir os 150 megawatts de energia.